Fosse um roteirista de cinema fazer um filme de uma partida
de futebol, buscando dar a ele um caráter emotivo, dificilmente ele conseguiria
alcançar o que foi visto na noite desta quinta-feira, nos minutos finais de
Atlético/MG 1 x 1 Tijuana, no estádio Independência.
Dentro do cenário de possibilidades de classificação, dizia
o regulamente que o empate em 0 x 0 ou 1 x 1 faria o time mineiro chegar à
semifinal da Taça Libertadores. Porém, muitos esperavam uma vitória, de certa
forma tranquila e convincente do time dirigido pelo técnico Cuca. Talvez muito
pelo futebol bonito e vistoso que a equipe tem apresentado, somado ao grande
retrospecto da equipe no estádio Independência (desde a sua reabertura em 2012
o Galo ainda não perdeu nele).
A bola rolou e o que se viu foi um Tijuana correndo demais,
mostrando um fôlego invejável. E assim foi durante quase todo o jogo. O técnico
e habilidoso time do Atlético/MG tinha dificuldades para manter a bola no pé e
criar chances de gol. E em um contra-ataque pela direita, um bom cruzamento
chegou até Riascos, que abriu o marcador. Marcos Rocha respondeu pouco depois e
parou no goleiro Saucedo. Mas o Galo viria a empatar na bola parada, ainda na
primeira etapa: Ronaldinho cobrou falta da direita na área e Réver apareceu
livre de marcação para chutar e igualar o marcador.
Na segunda etapa, o Galo melhorou, passou a dominar a
partida e neutralizar os ataques dos mexicanos. Mas, não seria assim até o
final. O cenário de possibilidades apontava o 1 x 1 como benéfico ao time
mineiro e conforme foram aproximando-se os 45 minutos, foi o Tijuana mais para
o ataque. Arce por pouco não fez o segundo em uma falta que explodiu no
travessão de Victor. Era o início de um final épico e dramático. O Tijuana cada vez mais ia para cima, e naturalmente, ia deixando cada vez mais espaços
para o contra ataque (muitas vezes mortal) do Atlético/MG. E quando o relógio
já apontava mais de 40 minutos, o contra ataque do Galo saiu, mas Saucedo
evitou o gol, defendendo chute de Luan, que recebeu boa assistência de
Ronaldinho Gaúcho.
Terminasse o jogo sem nada mais acontecer de muito
relevante, já poderíamos dizer que se tratava de um jogo emocionante. Só que o
lance mais histórico ainda estava por vir. Foi nos acréscimos, quando Leonardo
Silva cometeu pênalti. Sim, o forte e poderoso Galo estava a um passo de dar
adeus ao sonho de conquistar a América. O Brasil esteve muito perto de ver seu
melhor time (e único representante vivo na competição) se despedir. Só que não!
Pelo menos por enquanto, não. Riascos bateu no canto direito de Victor, que
defendeu com o pé esquerdo. Sim, com o pé esquerdo. Dizem que o pé da sorte é o direito, mas para a torcida do Galo não. Para os atleticanos, o pé da sorte é sim o esquerdo. Possivelmente, provavelmente, a defesa mais importante
da carreira de Victor. Provavelmente, a defesa mais importante da história do
Clube Atlético Mineiro. Uma defesa benéfica ao futebol brasileiro. Bom ter o
Atlético Mineiro vivo na Libertadores. Bom ver vivo o time brasileiro que melhor
traduz dentro de campo aquilo que tanto procuramos: o tal jeito brasileiro de
jogar futebol!
Dizem por aí que Cuca é azarado. Se outrora foi, não dessa vez! Ouvi por aí muita gente dizer que o Atlético/MG não mereceu
passar pelo jogo de hoje. Discordo! Como discordo que o Galo tenha jogado mal.
O time não fez a melhor das suas atuações, mas não dá para afirmar que o
Atlético jogou mal. Não só de vitórias vive um grande time. E mais: não só de vitórias
bonitas e maravilhosas vive um time, por melhor que ele seja. Um time bom e
encantador vive também de dois empates, onde a classificação vem pelo gol
marcado fora de casa (diga-se de passagem, gol marcado nos acréscimos).
Se o Atlético/MG vai ganhar a Libertadores 2013, não posso
afirmar. Se esse time vai cair de produção nos próximos dias e meses, também
não posso afirmar. Mas, o que posso dizer é que a defesa do Victor hoje, talvez
nunca saia da minha memória. E também de todos atleticanos. E de todos amantes
de futebol. Aliás: FUTEBOL!!! Assim com letra maiúscula fica mais bonito!