Por Danilo Silveira
Mais de quarenta e cinco minutos do segundo tempo passados,
o Flamengo com um a mais em campo e em uma jogada de escanteio, o goleiro da
Portuguesa, Lauro, faz de cabeça o gol de empate, tirando dois valiosos pontos
do time rubro-negro. Talvez o impacto desse gol fosse menor se as perspectivas
do Flamengo no ano fossem outras. Se tudo correr dentro do esperado, o Flamengo
não vai ser campeão brasileiro nem vai para a Libertadores do próximo ano. Vai
sim é disputar sua permanência na primeira divisão ponto a ponto com os
concorrentes da parte de baixo da tabela. Não é pessimismo, tão menos torcer
contra, é sim um preço que o clube está pagando pelo passado recente. Basta
voltar um pouco no tempo para perceber isso.
Dia 6 de dezembro de 2009, maracanã lotado, em festa.
Dezessete anos depois, o Flamengo voltava a conquistar o título do Campeonato
Brasileiro, sob comando do técnico Andrade, com um time com grandes talentos
como Adriano, Petckovic e Bruno, mas que apresentava grandes limitações.
A volta de Vagner Love em 2011 dava ao torcedor grandes
esperanças e a Libertadores era um sonho possível. Mas, dentro de campo a
equipe não apresentava o futebol dos melhores e mesmo ainda
vivo na Libertadores, Andrade não suportou e foi demitido do cargo de
treinador. Veio Rogério Lourenço e com ele a eliminação do torneio continental.
Depois, veio Silas e a campanha no Brasileiro era tão desastrosa a ponto da
palavra rebaixamento pairar sobre a Gávea, menos de um ano após o título da
mesma competição. Com a missão de escapar da Série B, Vanderlei Luxemburgo foi contratado.
Começou bem, cumpriu a missão de fazer a equipe permanecer na Primeira Divisão.
No ano seguinte, Thiago Neves e Ronaldinho foram contratados e empurraram o time
para o título estadual. Veio o Brasileiro e o título parecia altamente
palpável. Só que no meio da competição, Luxemburgo perdeu a mão e começou a
cometer erros atrás de erros. O time perdeu o padrão e a vaga na Libertadores
parece ter caído do céu.
Para 2012, o Fla perdeu Thiago Neves para o Flu e
começou a Libertadores sem maiores reforços. Porém, o maior de todos os
problemas naquele momento era Luxemburgo, que começou com a mania de escalar o
time de maneira defensiva. No jogo de estreia na Pré-Libertadores, o meio-campo
era formado por Aírton, Luiz Antônio, Willians e Renato, com o talentoso
meia-armador Bottinelli no banco de reservas. O defensivismo se tornou marca
registrada do treinador, que acabou
demitido antes mesmo do início da fase de grupos da Libertadores. Há rumores de
que foi preponderante a relação ruim entre ele e Ronaldinho Gaúcho. Falando
no gaúcho (mineiro), não demorou muito para ele sair pela porta dos fundos, Ele forçou a recisão do contrato alegando não receber salários. Em meio a isso, Joel Santana substituía Luxemburgo e tentava melhorar uma equipe sem padrão. Foi prejudicado
pela ausência de um tempo maior para treinamentos, já que a pré-temporada tinha
sido realizada por Luxemburgo. O fato é que Joel foi muito mal e não demorou
muito para ser eliminado da Libertadores (ainda na fase de grupos) e ser
demitido. Do meio do ano em diante, o Flamengo apresentou algumas melhoras com Dorival
Júnior, mas era muito difícil acreditar que jovens promissores como Adryan,
Matheus, Luiz Antônio e Nixon estivessem prontos para aguentar o tranco. Mais
uma vez a palavra rebaixamento era muito mais escutada do que título e mais uma
vez o fim da competição fora das quatro últimas posições foi comemorado. Era a
hora de rever tudo, olhar para trás e analisar todos os erros cometidos.
Patrícia Amorim perdeu as eleições e Antônio Bandeira de Melo assumiu o cargo
de Presidente do clube.
Para muitos, a esperança de uma nova era no clube. Como primeiro
passo, o Presidente manteve Dorival Júnior, que fez sua pré-temporada sem
muitos reforços de peso. Passaram cerca de três meses e lá estava Dorival sendo
demitido, sob alegação de redução de custos. Será que não viram isso antes da
Pré-temporada? Lá estava Jorginho assumindo um time que não tinha sido montado
por ele. Mais uma vez o Flamengo dava para um treinador a oportunidade de fazer
a pré-temporada e o demitia praticamente em seguida. De 2011 para 2012, foi com
Vanderlei Luxemburgo e de 2012 para 2013, foi com Dorival Júnior. Jorginho teve
vida curta no Flamengo. Em meio a um cenário de erros organizacionais da
direção do clube, ele não conseguiu ter regularidade. O time até fez boas
partidas, mas fazia outras terríveis. Foi demitido e pouco depois veio Mano
Menezes para o cargo de treinador. Mano começou bem, mas não faz milagre.
Carrega em suas costas um piano, onde as teclas são os erros dos três anos
anteriores e o som que se ouve é de críticas da apaixonada torcida, que se
acostumou a ver a falta de planejamento imperar. Mano está tendo um difícil
trabalho e olha que está apenas começando. As perspectivas não são das melhores
e pelo que parece, a torcida rubro-negra ainda vai sofrer muito com os erros do
passado.
Tite, campeão da Libertadores e campeão mundial com o
Corinthians, está no clube há cerca de dois anos e meio.
Cuca, vice-campeão brasileiro e campeão da Libertadores com
o Atlético Mineiro, está há mais de dois anos no clube.
São dados que por si só podem representar pouco, já que ser campeão
não significa que o trabalho foi bem feito pelo treinador, assim como não
significa que um time não possa ter uma boa sequência com trocas sucessivas de
treinadores. Mas, os dois casos acima são de dois treinadores que estão fazendo
dois bons trabalhos, com equipes organizadas e entrosadas, que jogam junto há algum
tempo.
Flamengo
2010 – Andrade, Rogério Lourenço, Silas e Vanderlei
Luxemburgo
2011 – Vanderlei Luxemburgo
2012 – Vanderlei Luxemburgo, Joel Santana e Dorival Júnior
2013 – Dorival Júnior, Jorginho e Mano Menezes.
Oito treinadores em menos de quatro anos. Em 2010, 2012 e
2013, o Flamengo teve nas mãos de pelo menos três técnicos. Em quatro anos,
apenas Vanderlei Luxemburgo conseguiu começar e terminar o ano, que foi em
2011.
Desse histórico recente, pode-se concluir que há grandes possibilidades
das contratações dos treinadores estarem sendo feitas de maneira equivocada ou
as demissões desses treinadores estarem feitas de maneira errada.
Por fim, o gol do Lauro é o pior dos problemas?