terça-feira, julho 15, 2014

RECORDAR É VIVER: BRASIL 1 X 0 EUA - 04/07/1994

Por Danilo Silveira



Em tempo de Copa, vendo a Seleção Brasileira apresentando um futebol tão ruim, resolvi recorrer ao bom e velho Youtube para tentar assistir algo que a seleção do nosso país já havia feito de melhor. Foi então que escolhi um duelo da Copa de 1994. O jogo em que o Brasil derrotou os EUA por 1 x 0, com gol de Bebeto. Se hoje a Alemanha veio em nossa casa e nos ganhou por 7 x 1, há 20 anos fomos aos EUA para eliminarmos os donos da casa nas oitavas de final, com uma boa atuação coletiva.

Confesso que de tão mal que ouço algumas pessoas falarem sobre a seleção de 94, acabei me surpreendendo de forma positiva com que vi. Um time muito mais arrumado, muito mais organizado e consciente do que eu mesmo imaginava. Parece absurdo constatar que Carlos Alberto Parreira, que dirigia o time naquela ocasião, é o mesmo cidadão que teve papel de coordenador técnico em 2014. Parece que andou para trás em 20 anos.

Há duas décadas, contra os anfitriões, a seleção do nosso país não teve como prática fazer ligações diretas da defesa para o ataque. Por sinal, cabe destacar aqui uma atuação muito boa da dupla de zaga. Márcio Santos e Aldair foram praticamente perfeitos e os EUA criaram muito pouca coisa na parte ofensiva. A melhor oportunidade americana ocorreu aos 11 minutos de jogo, em chute de Dooley, que passou perto da trave direita de Taffarel.

Se a defesa se portou bem, a dupla e volantes foi excepcional. Mauro Silva e Dunga tiveram atuações maiúsculas, principalmente Dunga, o melhor jogador em campo, sendo um gigante na marcação e aparecendo no ataque com bastante qualidade. Saiu dos pés dele o ótimo cruzamento para Bebeto emendar um voleio e quase abrir marcador ainda na primeira etapa.

A dupla de laterais também fez um bom jogo, mas carregou uma grande mancha naquela partida. Nos minutos finais da primeira etapa, Leonardo perdeu a cabeça e agrediu de forma grosseira, desleal e covarde o jogador Tab Ramos. Uma cotovelada no rosto rendeu muito mais que o cartão vermelho para Leonardo em um jogo de futebol, mas fraturas no crânio e no maxilar do norte-americano.


Queria deixar aqui registrado que no vídeo em que assisti, o narrador é Luiz Carlos Júnior, esse mesmo que narra jogos na "sportv" hoje em dia. Instantes depois em que Ramos sofre a cotovelada, ele proferiu as seguintes palavras: "O jogador americano também valoriza, fica na maca. Também não foi isso tudo não." Parece mais do que infeliz tão declaração. Talvez nem o próprio Luiz Carlos Júnior lembre do que disse há duas décadas.

Voltando ao jogo, cabe destacar que Parreira conseguiu minimizar os efeitos de ter um homem a menos sem mexer peças em sua equipe. Mazinho foi deslocado do meio para a esquerda e conseguiu cumprir muito bem a função por ali. Mais que isso: o time do Brasil não sentiu drasticamente o fato de ter um a menos e voltou para o segundo tempo atuando melhor que o adversário.

Por várias vezes as estatísticas do jogo eram exibidas na tela. Em todas que me recordo o Brasil foi apontado como o time que detinha mais posse de bola. Um dos grandes aliados do Brasil foi a bola. O time não a rifava, como fizeram os comandados de Felipão em 2014. Quando não conseguia evoluir para o campo ofensivo com a bola, o time do Parreira segurava a bola, esperando a melhor saída. O time jogava mais pelo chão que pelo alto. Características essas que já sugerem uma equipe bem mais interessante que a atual Seleção Brasileira.

Cabe ainda destacar um outro dado. As 38 minutos da segunda etapa o Brasil tinha feito apenas nove faltas no jogo. Um número bem interessante. Dá até arrepio imaginar que em 2014, contra a Colômbia, por exemplo, o Brasil terminou o jogo tendo cometido 31 faltas. Não dá para tirar conclusões profundas tendo assistido um jogo, mas me parece que em 20 anos o Brasil regrediu quando o assunto é seleção. Afirmo que na Copa de 2014 a Seleção Brasileira não fez um jogo com a qualidade que fez contra os EUA em 1994.

Não foi falado ainda sobre o ataque. Romário e Bebeto formaram naquela Copa uma dupla que até hoje é muito comentada em mesas de bares e estúdios jornalísticos. O que posso dizer da atuação dos dois é que eles se movimentaram bastante, saindo da área com frequência para buscar o jogo. Romário não parecia nem um pouco aquele atacante fixo dentro da área que foi em seus últimos anos de carreira pelo Rio de Janeiro. Nos minutos finais da primeira etapa, quase anotou um golaço, quando driblou Lalas e bateu de fora da área, mas o chute beijou a trave esquerda de Meola.

E foi uma das arrancadas do Baixinho que decidiu o jogo. Mas antes de falar do gol, quero destacar um fato curioso. Cafú, que durante anos foi o lateral direito da Seleção Brasileira, era um dos mais novos daquele grupo, com apenas 24 anos. Aos 23 minutos da segunda etapa, ele entrou no jogo na vaga de Zinho. Só que Cafú não adentrou o gramado para atuar como no lado direito, e sim no esquerdo, para auxiliar Mazinho.


Cinco minutos depois de entrar em campo, ele roubou bola pela esquerda e a redonda chegou até Romário, na altura do meio-campo. O baixinho arrancou, superou a marcação, serviu Bebeto na ponta direita, que com uma belíssima finalização fez o único gol do jogo. Foi aí que se deu uma das cenas mais marcantes da seleção naquela Copa. Bebeto dá a volta por trás do gol americano e fala para Romário "Eu te amo." Era o gol que colocaria o Brasil nas quartas de final, abrindo caminho para o tetra.

FICHA TÉCNICA

BRASIL 1 x 0 EUA
Local: Stanford Stadium, em Palo Alto
Data/Hota: 4/7/94, às 12h35
Árbitro: Joel Quiniou (França)
Público: 84,147
Cartões vermelhos: Leonardo, 41'/1ºT (BRA); Clavijo, 42'/2ºT (EUA)
Gol: Bebeto 28'/2ºT (1-0)

BRASIL: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Cafu); Bebeto e Romário. Técnico: Carlos Alberto Parreira

ESTADOS UNIDOS: Meola; Clavijo, Balboa, Lalas, Caligiuri; Tab Ramos (Wynalda), Dooley, Hugo Perez (Wegerle), Sorber; Cobi Jones e Stewart. Técnico: Bora Milutinović.

segunda-feira, julho 14, 2014

JOGO 64: COMO NÃO ADMIRAR? ALEMANHA É CAMPEÃ DO MUNDO EM PLENO MARACANÃ!

Por Danilo Silveira



Como não se render ao futebol alemão? Como não admirar um time que joga de maneira tão bonita, que não precisa de pedaladas nem de dribles desconcertantes para ser espetacular? Como não admirar uma equipe de belos jogadores, mas onde o conjunto é que predomina? Como não admirar Messi? Como não admirar o baixinho que veste a 10 da Argentina, com talento nato e inteligência acima da média dentro de campo?

Fantástico foi o futebol por dar à Copa do Mundo de 2014 uma final entre Alemanha e Argentina. Cruel foi esse mesmo futebol por precisar, conforme as regras pré estabelecidas, dar ao confronto um perdedor. Lembrando a trajetória de ambas, analisando o que fizeram durante o jogo decisivo, já dava para ter a certeza que seria triste ver uma das duas sair do Maracanã sem o troféu.

Talvez nunca um prêmio tenha tido um sabor tão amargo para Lionel Messi quanto o de melhor jogador de uma Copa do Mundo. Por si só o prêmio o fará sempre lembrar que o título lhe escorreu pelos pés nos minutos finais da prorrogação. Messi parecia que não esteva mais de corpo presente ali no Maracanã quando foi receber o troféu. Sua cabeça parecia estar em outro lugar. O barulho dos milhares de alemães causavam um eterno silêncio em seu coração e o Maracanã lotado dava um vazio imenso à sua mente. Quando Messi terá outra oportunidade como essa de vencer uma Copa do Mundo, ninguém sabe! Talvez nunca! E ele sabe disso!

O chute de Gotze aos 113 minutos deu à Alemanha o título que lhe faltava para coroar uma geração. Talvez seja Joachim Low o principal responsável por ele. O treinador que fez a seleção ser forte em 2010 e não perder a força ao longo de quatro anos. Mesclou os jovens com os mais experientes da maneira aplausível. Soube reunir excelentes jogadores e formar um excelente time: Khedira, Kross, Lahm, Hummels, Schweinsteiger e companhia foram mais que a soma de seus talentos.

Low teve a coragem de jogar bem mais da metade do confronto final com apenas um volante de ofício, mesmo sabendo da qualidade ofensiva da Argentina. E olha que esse volante era Schweinsteiger, que chega constantemente ao ataque. Precisa o futebol que se formem mais Joachims Lows. Quem sabe assim teremos mais equipes como essa Alemanha. O título é puro e mero detalhe. Falo de futebol, de conceito, de estratégia. Transcende a barreira do placar final que o jogo lhe aponta.

Talvez o brasileiro ainda não entenda muito bem isso. Talvez ainda não saibamos lhe dar muito bem com essa história de jogar bem e vencer. Talvez a culpa não seja propriamente nossa. Talvez tenham nos ensinado dessa forma, tenham colocado em nossas cabeças a síndrome do vencer, que acaba por nos impedir de olhar para outra direção que não seja o resultado final que o placar aponta. Números, números, números...como se o resto não importasse. Tanta importância demos aos números que só fomos de fato perceber que estava tudo errado quando tomamos sete gols em um jogo. Os 90 minutos deveriam doer muito mais que o número sete, só que conosco é o contrário.

E nessa matemática, somamos 11 jogadores para cada lado e vemos a Alemanha enfrentar a Argentina. Mas talvez não consigamos perceber que Sabella fez da Argentina muito mais que 11 jogadores, assim como Low fez com a Alemanha. Tínhamos em campo dois times de futebol. Talvez seja difícil compreender que a soma de 11 jogadores aponte como resultado muito mais que propriamente o número 11. Talvez seja complicado entender que o troféu carregado por Lahm signifique muito mais que propriamente passar sete jogos sem perder.

O sistema defensivo argentino foi quase perfeito. A Alemanha tentou com o toque de bola e avanço de seus homens quebrar esse bloqueio. Já a Argentina liberava Higuain e Messi da marcação, objetivando roubadas de bola rápidas que pudessem pegar os dois em boas condições de aproveitar buracos deixados na defesa alemã. Dentro das propostas, cabe destacar que a Argentina teve mais perto de abrir o marcador. Cabe destacar ainda que as duas seleções apresentavam em suas estruturas um padrão de jogo, estratégias bem definidas.

Mas talvez a própria matemática ainda nos faça achar que somos os melhores, pois ganhamos cinco, enquanto os alemães ganharam quatro e a Argentina apenas duas. Não conseguimos ainda entender que o futebol é muito mais do que dividir, multiplicar, somar, diminuir. E esse tipo de situação só diminui nossa qualidade, aumenta nossa distância para o restante do mundo, dificultando a multiplicação de títulos. Mas parece que está tudo bem, até que alguém consiga chegar ao número cinco e nos alcançar.


Voltando a falar do melhor jogador do mundo, cabe destacar que Messi continua sendo o Messi. Aliás, adicionou ao seu currículo atuações excelentes em uma Copa do Mundo, que culminaram com o prêmio de melhor jogador da competição. Mas na sua essência como jogador, segue o mesmo. Talento nato. Inteligência pura com a bola nos pés. Talvez para alguns o empate com a Alemanha, que se tornou derrota na prorrogação, sirva para o rotular de alguma coisa negativa. Perdedor ou algo do tipo. Na verdade, perde quem ao invés de admirar um bom futebol fica preocupado única e exclusivamente com estatísticas e mais estatísticas.

Eu prefiro admirar o futebol. E nessa empreitada, tive gosto de assistir à final da Copa do Mundo. Mascherano teve atuação excepcional à frente da zaga argentina. Hummels foi um gigante na defesa alemã. Messi exibiu seu talento praticamente inigualável. Parece que até foi bom que os 90 minutos não tenham tido gol. É como se o placar ficasse em segundo plano. Como se fosse uma informação para os que assistiam à partida: "olhem o jogo, analisem tática e técnica. Esqueçam um pouco o placar!" Eu sei que é difícil. Há pessoas que não conseguem entender como pode um 0 x 0 ser considerado um bom jogo, pois acreditam ser o gol a grande graça do futebol. Talvez estejam certas! Talvez um 5 x 4 com duas defesas horríveis seja mais atrativo que um 0 x 0 de dois sistemas defensivos excepcionais. Depende do que se espera ao assistir um jogo de futebol.

O gol da Alemanha aos 113 minutos foi um mero detalhe, um simples acontecimento dentro de campo. Poderia ter saído ainda na primeira etapa: para a Argentina quando Higuain desperdiçou chance de ouro ou para a Alemanha em chute de Schurrle, defendido por Romero. Mas os deuses deram aos amantes desse esporte mais meia hora do bom futebol. O gol na prorrogação deu para Alemanha o título, deu à Argentina o vice. Mas, na prática, as duas seleções já estavam de parabéns pelo que haviam apresentado em solo brasileiro. Restava saber qual seria abençoada com o troféu. Ironicamente, não foi a seleção do Papa. Foi a fantástica Alemanha de Joachim Low!

quarta-feira, julho 09, 2014

JOGO 62: QUEBRANDO MITOS, DESFAZENDO LENDAS: A ARGENTINA ESTÁ NA FINAL!

Por Danilo Silveira



O futebol é um esporte que vive de histórias, algumas verídicas e outras que são apenas lendas e mitos, que não passam do plano do irreal. E nisso tudo, acabamos formando heróis e vilões, muitas das vezes de forma errada e perigosa.

Ontem mesmo a Seleção Brasileira perdeu por 7 x 1 e foi eliminada para a Alemanha, tirando um peso das costas do falecido goleiro Barbosa, que se tornou vilão da dita tragédia de 1950, após sofrer o gol que culminou no vice-campeonato brasileiro. Aqui não estava para presenciar, mas creio que a narrativa que conta o ocorrido com Barbosa torna uma lenda que ele tenha sido o grande vilão.

Bonito de se ver é quando a própria história aparece para provar a inveracidade desses mitos e lendas que nascem em algum lugar no meio do nada. Talvez os brasileiros, a partir dos 7 x 1 sofridos para a Alemanha repensem o status de vilão que, como narra a história, Barbosa carregou até a sua morte. Mas não só de histórias e lendas de grande proporção vive o futebol. Há outros mitos, que por mais que sejam pequenos, incomodam. Bonito de ver que a Seleção Argentina de Futebol vem ao longo da sua trajetória no Brasil, quebrando diversas teorias dadas como verdade, mas que não se mostram verossímeis no plano prático.

Ouvi comentários Pré-Copa que tratavam a Argentina como uma seleção com sérios e graves problemas defensivos. Eu mesmo passei a achar que os hermanos poderiam ter dificuldades quando tivessem sua defesa posta à prova. No entanto, veio Alejandro Sabella e mostrou ao mundo que não ia rolar essa de time bom na frente e ruim atrás. Se na frente tem deixado um pouco a desejar, na parte defensiva a Argentina tem feito uma Copa praticamente perfeita. Nos três jogos de mata-mata, nenhum gol sofrido, contando com duas prorrogações na bagagem.


Dizem por aí, que Mascherano é um jogador ruim e violento. Para mim, mais uma invenção. O excelente defensor-volante da Argentina e do Barcelona tem feito até aqui uma baita Copa do Mundo. No duelo contra a Holanda ele foi o melhor do time, marcando de maneira exemplar e dando qualidade à saída de bola.

Também dizem por aí que a Seleção Argentina é catimbeira e violenta. Mais um dado que não pode ser dado como verdade se analisarmos a atuação dos hermanos nessa Copa. Isso nos leva a crer que ser ou não violento dentro de campo mais tem a ver com o comando do que propriamente o país de origem. Não dou a essa Seleção Argentina o rótulo de catimbeira, muito menos violenta. Contra a Holanda, por exemplo, a primeira falta cometida pelos argentinos aconteceu aos 36 minutos da primeira etapa.

Por fim, a balela das mais absurdas: Messi não joga bem pela Seleção Argentina! Basta olhar o desempenho do camisa dez na Copa de 2010, na Copa América de 2011, nas eliminatórias para 2014 e na Copa de 2014 para se diagnosticar que Messi é de fundamental importância para a seleção e dá aos argentinos a possibilidade de ver um gênio comandando a seleção dentro das quatro linhas. Citei quatro competições, mas esqueci de lembrar daquele Argentina 4 x 3 Brasil que ele fez três gols.

A vitória nos pênaltis sobre a Holanda com duas defesas do goleiro Romero,
deu a essa Argentina, que vem quebrando mitos, o direito de disputar novamente, depois de 24 anos, uma final de Copa do Mundo. Holanda que por sinal fez uma boa Copa e tem até aqui aqele que para mim foi o melhor jogador: Arjen Robben. Holanda essa que valorizou e muito a classificação argentina, mostrando-se mais uma vez um time duro de ser batido, muito bem arrumado pelo técnico Louis Van Gaal. Espero que não surja mais uma lenda de que a Seleção da Holanda amarela em momentos decisivos em Copas do Mundo.

Por sinal, tinha mais uma lenda que rolou por aí durante alguns anos: que a Copa do Mundo de 2014 estava comprada para o Brasil ser campeão. Acho que os 7 x 1 da Alemanha foram mais que suficientes para deixar perplexos aqueles que conspiravam dentro dessa teoria.

Esperemos agora que o próximo domingo nos diga quem vencerá a Copa. A Argentina de Messi (que joga bem também pela seleção) e Mascherano (que não tem se mostrado violento e mau jogador) ou a Alemanha (que meteu 7 x 1 no suposto time que ganharia a Copa pois haviam pago para isso) de Klose, Muller, Schweinsteiger e companhia. Dois times brilhantes. Um brilha pela raça, pela entrega, determinação e padrão defensivo (lembre-se que a defesa de Sabella faz ótima Copa), o outro pela beleza e plasticidade do toque de bola refinado, pelo entrosamento e qualidade dos jogadores e pela leveza dentro das quatro linhas.

Dia 13 de julho, um desses dois países irá pintar o Maracanã com as cores de sua pátria ao término do jogo. Será Messi ou Lahm o homem que terá a incumbência de levantar o troféu quando já tiver caído a noite na Cidade Maravilhosa?

terça-feira, julho 08, 2014

JOGO 61: ALEMANHA ENSINOU O BRASIL A JOGAR FUTEBOL. SÓ QUE PRECISAMOS APRENDER MUITO MAIS.

Por Danilo Silveira



Rostos pintados, ruas enfeitadas, cornetas buzinando, uma população alvoroçada. Esse era o clima de festa que vivia o Brasil, onde o verde e o amarelo ditavam o tom. Tudo em busca de um sonho: ver a Seleção Brasileira de Futebol ganhar, dentro de seu próprio território, o hexacampeonato em Copas de Mundo.

O povo precisava desse título para esquecer um pouco as mazelas sociais, esquecer um pouco a podridão na política, a falta de recursos do país aplicados na saúde a na educação. Era o título da Copa do Mundo que serviria para "salvar a pátria". Na realidade em nada salvaria, pois continuaríamos a perder vidas por conta da violência existente em nosso país, continuaríamos a ver doentes sem leitos em hospitais, crianças sem professores, professores sem condições básicas para ministrar uma aula e por aí vai. Mas o título em uma competição esportiva maquiaria tudo isso, faria a população tratar de forma secundária que estamos em ano eleitoral. Claro que uso o termo "população" de uma maneira geral: há aqueles que não ligam para futebol e não estão nem aí para a Copa. Para esses, restava esperar a tão popular Copa do Mundo acabar para o país voltar à normalidade.

Só que não adianta esquecer os próprios problemas, fugir da busca por soluções para eles. Dilma Roussef, o Brasil continuaria enfrentando os mesmos problemas sociais, econômicos e políticos, ganhando ou não a Copa. Não se transforma um país dessa forma. A não ser que a senhora tenha um plano inovador para transformar doze estádios em milhares de hospitais e colégios!

Pois bem! Quis o Brasil esquecer os problemas e se voltar para a Copa. As manifestações que marcaram o país recentemente deram lugar ao verde, ao amarelo e ao sentimento do pseudo patriotismo. Isto é, um patriotismo direcionado única e exclusivamente para o futebol. Nunca vi o povo brasileiro sair pintado de verde a amarelo, com corneta na mão em dia de eleição.

Nessa brincadeira de maquiagem, a Seleção Brasileira também sofreu. Luiz Felipe Scolari não teve competência suficiente para montar um time de futebol. O Brasil parou, esperando o hexa, mas não tínhamos dentro das quatro linhas um time de futebol. Só que o brasileiro é sabido, esperto. Tinha que haver alguma forma de ganhar o hexa. Somos o país do jeitinho, não é mesmo? Logo na estreia o árbitro inventou um pênalti, preponderante para que conseguíssemos a vitória sobre a Croácia. Festa total!

Pouco depois vieram as oitivas-de-final e o Brasil superou o Chile nas penalidades, mesmo após uma atuação terrível. Portanto, faltavam apenas três jogos para o hexa. Quem poderia ser capaz de tirar o título? A Colômbia? É claro que não! Ganhamos por 2 x 1. Perdemos o Neymar, por contusão. Já se falava em recuperar o melhor jogador do time para jogar a final. Nem a semifinal tínhamos ganho ainda! Mas a ida à final era certa!

Foi aí que veio a Alemanha e colocou o Brasil em seu devido lugar. Mostrou aos 11 jogadores de Scolari qual o significado real de um time de futebol. Mostrou ao povo brasileiro como que se joga esse esporte. Muller, Khedira, Kross e companhia deram uma aula de futebol ao Brasil e no Brasil. Mostraram como faz uma marcação eficiente, como se mantém a posse de bola com qualidade, como se contra-ataca. Um gol atrás do outro, deixando os brasileiros perplexos, como se estivessem recebendo uma aula, mas sem conseguir entender nada do que se passava nela.

Muller deu início ao massacre, marcando seu quinto gol na Copa, abrindo caminho para a goleada alemã. Klose ampliou, anotando seu décimo sexto gol na história das Copas, passando Ronaldo e se tornando o maior artilheiro. Ainda tínhamos 22 minutos do primeiro tempo. Dava tempo para mais cinco gols alemães: um de Khedira, dois de Kross e dois de Schurrle. Um verdadeiro massacre! Oscar ainda descontou, mas nada que pudesse minimizar o vexame.

Talvez a derrota para o Chile nos pênaltis fosse melhor. Dava para jogar nossos problemas para baixo do tapete. Dar uma maquiada e seguir nosso caminho. Assim como fazemos com os problemas sociais do nosso país. Assim como fizemos com o Brasil para receber o mundo, tapando favela para o turista não achar o Brasil um país "feio". Maquiando nossa realidade. Só que o destino foi cruel com a gente. Estávamos ali, perplexos, assistindo o Brasil ser massacrado pela Alemanha. Inacreditáveis 7 x 1. Não havia mais jeitinho, não havia mais como esconder nossa fragilidade no futebol, nossa crise tática. Estava lá a seleção do Felipão. O grande motivador, o grande mestre que nos traria o hexa estava desprotegido. Não houve maquiagem alguma capaz de esconder suas falhas. A Alemanha deixava explícito nossos problemas, nossas fraquezas. Tínhamos jogadores bons, um potencial incrível, mas mal explorado, pois escolhemos a pessoa errada para comandar. Talvez assim funcione o Brasil na prática. Um país com grande potencial, mas na mão de incapazes, politicamente falando.

David Luiz pediu desculpas para a população. Chorava copiosamente como uma mãe que perdeu o filho por falta de atendimento em hospital público. Chorava como uma criança que não tem o que comer. Chorava porque havia perdido um jogo de futebol. Mas o sentimento de humilhação era tão forte como o da mãe e da criança acima citados. O Brasil chora porque parou para uma Copa, parou para ter no futebol a alegria que não tem com o dia-a-dia. O Brasil chora porque ficou sem a Copa e continuou sem hospital, sem colégio, sem seriedade.


O Mineirão que viu o Brasil passar pelo Chile e ser eliminado pela Alemanha é o mesmo que viu o Atlético-MG do Cuca ser campeão Mineiro e da Libertadores em 2013. É ele a figura ideal para fazer a Seleção Brasileira ressurgir das cinzas deixadas por Scolari e Parreira. Talvez a CBF prefira algum outro nome, ou quem sabe até manter a comissão técnica que perdeu de 7 x 1 para a Alemanha. Há políticos que trabalham para piorar o país e perduram no poder, porque no futebol seria diferente?

Ainda com tudo descrito, o brasileiro tem a velha mania de não assumir os erros, de achar que sempre há de ter alguma coisa que possa eximir a própria culpa do fracasso. Talvez essa figura seja Neymar. Alguns podem dizer que com o Neymar seria diferente. Que se não fosse a ausência do nosso maior craque estaríamos com vaga assegurada na final. Talvez alguns ainda achem que Zuniga, o colombiano que fez a falta que contundiu nosso camisa 10 seja o principal vilão. Eu sei, é difícil assumir culpa, é difícil olhar para o próprio umbigo e dizer: a seleção que eu tanto defendi é fraca, é péssima e foi eliminada por incapacidade técnica e tática. É difícil não ser vaidoso! É difícil assumir!

Segue viva a Alemanha e espera Holanda ou Argentina na grande final. As três seleções que sobraram no Mundial são muito melhores que o Brasil de Scolari. Muito mais bem preparadas, tanto tatica, quanto psicologicamente. Todas têm em seus comandos um treinador melhor que o Brasil. Portanto, para a beleza do futebol, para o bem do futebol, a derrota do Brasil para a Alemanha foi sensacional. Melhor ainda porque foi da forma que foi: um histórico 7 x 1. Irrepreensível! Unânime!

Para os patriotas que se irritam com aqueles que torcem contra a Seleção Brasileira de Futebol, lembro que dia 5 de outubro teremos eleições para Presidência da República. Não há momento mais apropriado para se pintar de verde e amarelo, buzinar cornetas e pedir para o Brasil "mostrar a tua força".

Ou mudamos de forma radical ou continuaremos dando vexame em diversos âmbitos: Na saúde sem hospitais, na educação sem colégios, na política sem políticos e no futebol sem um time.

sábado, julho 05, 2014

JOGO 60: SEGUE VIVO O SONHO DO INEDITISMO LARANJA

Por Danilo Silveira



Tim Krul adentrava o gramado da Fonte Nova quando o relógio já havia ultrapassado a marca dos 120 minutos. Mais precisamente nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação. O objetivo era simples e claro. Van Gaal queria que ele se tornasse o grande herói das cobranças de pênaltis, impedindo que as bolas chutadas pela Costa Rica entrassem na casa holandesa. Por que Krul teria sido o escolhido para essa função na vaga de Cillessen? Cena tão inusitada que chego a dizer que nunca havia presenciado a troca do goleiro titular pelo reserva instantes antes da disputa de pênaltis. Estava nas mãos de um jogador que não havia participado de um minuto sequer dessa Copa, a missão de manter vivo o sonho holandês de conquistar o inédito título de uma Copa do Mundo.

E Krul foi milimetricamente perfeito. Acertou o canto nas cinco cobranças costarriquenhas e em duas alcançou a bola e espalmou para longe o sonho da Costa Rica de continuar no meio de gigantes sem sucumbir. O que realmente motivou a entrada de Krul eu não sei. Desempenho técnico em cobranças de pênalti? Preparo psicológico? Supertição? Seja lá qual for, o fato é que ele saiu da Fonte Nova como o grande salvador da pátria holandesa.


Foi um verdadeiro xeque mate na Costa Rica que jogou 120 minutos como se estivesse em um tabuleiro de xadrez. Como se Jorge Luis Pinto fosse o enxadrista e os jogadores as peças. Cada um colocado em determinado local do campo de forma milimétrica e estrategicamente pensada. Três zagueiros e dois laterais compunham uma linha de cinco quando a Holanda tinha a bola e por quase nada a desfaziam. Bryan Ruiz, Bolaños, Tejeda e Borges formavam a segunda linha de marcação, quase sempre próxima ao círculo central, buscando impedir que a Holanda avançasse seu time até a intermediária. Campbell atuava isolado à frente, esperando uma jogada em velocidade ou que a posse de bola ficasse com sua equipe, para ter o auxílio de Bryan Ruiz pelo meio e Bolaños pela ponta esquerda na criação de jogadas de ataque.

Só que no xadrez, as peças têm igual valor para ambos os lados, isto é, os peões de um valem a mesma coisa que os peões do adversário, assim como as torres, o rei e por aí vai. No futebol não. Tinha a Holanda Arjen Robben, uma peça diferenciada, que é superior em termos de talento a qualquer outra do adversário. E ele parecia mais rápido que um cavalo trotando para cima de todos os adversários que por sua frente passavam. A torre costarriquenha formada à frente do goleiro balançava quando ele usava sua velocidade para tentar destruí-la. Era como se um só peão não fosse capaz de deter o habilidoso atacante holandês. O árbitro do Usbequistão, Ravsahn Irmatov começou então a distribuir cartões para aquelas peças que infringiam as regras do desporto. Foram quatro amarelos durante o duelo por infrações cometidas no camisa 11. E Díaz ainda contou com a conivência do árbitro, que deveria ter aplicado o segundo amarelo e lhe expulsado por conta de um carrinho em Robben, aos 45 do segundo tempo.

Assim como no xadrez, no futebol o raio de ação de cada peça pode variar de acordo com o desenrolar da partida. O volume de jogo holandês, fruto de uma boa escalação promovida por Louis Van Gaal fez o goleiro costarriquenho Keilor Navas ser por diversas vezes testado. E o camisa 1 teve uma tarde-noite inspirada na Bahia. Quando a Holanda conseguia superar o belo sistema de marcação adversário, lá estava ele para impedir o gol. Foi em chutes de Van Persie e Depay, foi na cabeçada de Vlaar, foi na cobrança de falta de Sneijder. Parecia impossível vencer o goleiro adversário.

Se o xadrez é um jogo onde a tática costuma prevalecer sobre a sorte, no futebol essa frase não pode ser dada como verdade. A sorte parece imprescindível e às vezes parece que algum fator que extrapola o plano teórico, tático e prático desse esporte surge como agente ativo no campo de jogo. Não bastasse a atuação fantástica de Navas, surgiu então outro obstáculo ao time laranja. A cobrança de falta de Sneijder explodiu na trave direita, o belo chute do mesmo Sneijder carimbou o travessão e quando Van Persie chutou para o gol sem goleiro, apareceu Tejeda para cortar para o alto, vendo a bola tocar o próprio travessão e não cruzar a linha final.

E como já virou ditado, essa é a Copa dos goleiros! Navas fechou o gol com a bola rolando, Krul pegou dois pênaltis! E no meio disso tudo Cillessen ia passar despercebido? Não! O holandês titular da posição impediu, aos 11 minutos da prorrogação, que o chute de Ureña encontrasse as redes. Tinha tudo para ser o xeque-mate costarriquenho em pleno tabuleiro baiano, mas o camisa 1 holandês apareceu como uma torre na linha um para impedir.

Como diversos tipos de fatores, como as bolas na trave e as belas intervenções dos goleiros, impediram que a partida tivesse algum gol anotado, a decisão ficou para as penalidades. E na Bahia, terra do Carnaval, Krul foi o Rei holandês. O grande herói que possibilitou que a Holanda caísse dentro da folia para comemorar o direito de continuar sonhando.

À Costa Rica um humilde muito obrigado! Obrigado por ter mostrado ao mundo que tradição não ganha jogo, que é possível vencer quando se tem menos talento que o adversário, mas que para isso não é necessário jogar retrancado. Obrigado por mostrar um padrão tático que falta a muita seleção com mais tradição e talento (não é mesmo, Felipão?). A Costa Rica se despede do Brasil de cabeça erguida e invicta.


Quarta-feira que vem teremos um encontro imperdível: a Holanda de Robben mede forças com a Argentina de Messi. Dois craques que se destacam em qualquer campo, em qualquer tabuleiro, contra todos os adversários, causando pânico a todas as peças que tem por incumbência diminuir os seus raios de atuação. Que São Paulo seja agraciado com um belo espetáculo.

JOGO 59: ARGENTINA MOSTRA A FORÇA DO SEU CONJUNTO, VENCE A BÉLGICA E CHEGA À SEMIFINAL

Por Danilo Silveira



Depois de vinte e quatro anos, a Argentina enfim voltará a frequentar a semifinal de uma Copa do Mundo. A difícil vitória sobre a Bélgica por 1 x 0, em Brasília, credenciou a seleção de Alejandro Sabella a estar entre as quatro melhores colocadas da competição.

Assim que o jogo começou a Bélgica povoou o campo ofensivo, mostrando à Argentina que não ia ter essa de jogar na retranca. Só que demorou menos de três minutos para Messi dar o ar da graça ao dar bela enfiada de bola para Lavezzi. Na sequência o lance acabou não sendo produtivo para os argentinos, mas serviu de cartão de visitas do melhor jogador do mundo. E cinco minutos mais tarde, Lionel novamente apareceu de maneira genial. Com um controle de bola fantástico, conseguiu manter a bola em seus pés em meio a dois marcadores e abriu a jogada na ponta direita para di Maria. O jogador do Real Madrid tentou enfiada de bola em profundidade e Vertonghen apareceu cortando, mas para infelicidade do camisa 5 belga a bola sobrou perfeita para Higuain emendar de primeira e abrir o marcador. Era o cenário perfeito para a Argentina!

O jogo se mostrava equilibrado, a Bélgica tentava pressionar, mas esbarrava em uma marcação muito bem executada pelos argentinos. Cabe destacar que Sabella promoveu duas alterações na equipe titular, ambas na primeira linha da equipe. Uma delas por conta da suspensão do lateral direito Rojo, que dava lugar para Basanta. A outra por opção: Demichelis jogou de titular colocando Fernández no banco de reservas. Já pelo lado belga, Wilmots abriu mão de Mertens e colocou Mirallas entre os titulares. E quanto as alterações, cabe destacar que no produto final, melhor para Sabella, já que a marcação argentina prevaleceu diante do bom ataque belga.

O jogo franco proposto pela Bélgica dava à Argentina o direito de contra-atacar. E aos 27 Messi deu bela enfiada de bola para di Maria, que acabou parando no zagueiro Kompany, que diga-se de passagem fez uma Copa do Mundo espetacular. Mas que uma oportunidade de gol desperdiçada, a Argentina perdeu ali um de seus principais jogadores. Di María sentiu e instantes depois deixava o campo para a entrada de Enzo Pérez, que jogou na mesma faixa de campo, mas sem o mesmo sucesso. Depois de perder Aguero na fase de grupos, a Argentina perdia mais um homem titular de seu ataque. Sobrecarga em cima de Messi.

Se serve como consolo para a Argentina, Higuain enfim conseguiu jogar bem uma partida. Muito bem, por sinal. Aos 9 minutos da segunda etapa ele quase anotou um golaço, ao disparar para cima de Kompany, dar uma caneta no zagueiro e soltar um foguete que explodiu no travessão de Courtois.

Um dos tópicos abordados ao longo desse período de Copa do Mundo é sobre a capacidade do sistema defensivo argentino. Será que os hermanos, com tanto talento na parte ofensiva, conseguiriam encontrar um equilíbrio do time todo? Pois o jogo diante dos belgas, em especial a segunda etapa, mostrou que a Argentina é muito mais do que um ataque excelente que conta com o melhor do mundo. Seja por baixo, seja pelo alto, a defesa mostrou-se extremamente segura, conseguindo prevalecer diante do bom poder ofensivo belga. Nem as entradas de Lukaku, Mertens e Chadli foram capazes de mudar esse panorama em Brasília.

Aos 35 minutos, Sabella trocou Higuain por Biglia, fechando o time e dando liberdade para Messi e Palácios (que havia entrado minutos antes na vaga de Lavezzi). E a dupla melhor funcionou aos 48, quando Palacios deixou Messi na cara do gol (Messi me pareceu em impedimento, mas nada foi assinalado). Era o lance daqueles que Messi raramente desperdiça, mas Courtois saiu bem do gol e conseguiu parar o chute do camisa 10. Nada que pudesse impedir que a Argentina chegasse a semifinal. Com muitos méritos e um atuação bastante segura, diante da Bélgica que está de parabéns por ter feito uma boa Copa do Mundo.

Agora, a Argentina espera o seu adversário da semifinal, que sai do confronto entre a surpreendente Costa Rica e a Holanda. Seja contra quem for a Argentina entra como favorita para chegar à decisão. Faltam apenas dois jogos para quem sabe Messi conseguir o título pelo qual é tão cobrado: o de campeão da Copa do Mundo. O camisa 10 erguendo a taça em pleno Maracanã é uma cena que fica cada vez mais possível e seria como uma tragédia para muitos brasileiros. Imagina então dizer que existe a possibilidade do Brasil ser o adversário da Argentina em uma possível final. Caso venha a ocorrer, que o confronto não extrapole os limites futebolísticos e que tenhamos paz, acima de qualquer resultado de uma partida de futebol.

JOGO 57: PELA SEGUNDA COPA CONSECUTIVA, LOW LEVA ALEMANHA À SEMIFINAL

Por Danilo Silveira


Alemanha e França entraram no Maracanã nesta sexta-feira com um desejo: vencer e continuar sonhando com o retorno a esse mesmo estádio daqui a nove dias (data em que será disputada a final). As duas equipes tinham futebol suficiente para apresentar aos espectadores um belo espetáculo. No entanto, ambas ficaram devendo, fazendo um jogo bem aquém daquilo se esperava.

A classificação alemã passou diretamente pela cabeçada de Hummels logo aos 13 minutos de partida, que encontrou as redes de Llorris. Foi o segundo gol do zagueiro nessa Copa (o outro aconteceu na estreia contra Portugal). Se é importante no ataque, Hummels é imprescindível na defesa. Gripado, ele não atuou nas oitavas-de-final contra a Argélia e ficou nítido o quanto a equipe sofreu com a sua ausência. E nesta sexta-feira ficou visível o quanto o seu retorno foi de importante, haja vista a melhora no sistema defensivo da equipe.

Durante a primeira etapa a Alemanha foi superior, valorizando a posse de bola, mesmo que essa fosse improdutiva em alguns momentos. O calor carioca parecia nitidamente atrapalhar a qualidade do duelo, disputado às 13 horas, com forte sol incidindo no gramado. A vantagem adquirida logo cedo deu aos alemães boa tranquilidade, que foi potencializada pelo fato da França enfrentar dificuldades para chegar ao gol de Neuer. E quando chegou, o goleiro alemão foi espetacular, ao salvar chute cruzado de Valbuena.

Didier Deschamps não promoveu nenhuma troca entre jogadores para o retorno do intervalo, mas a postura da equipe mudou. A França voltou mais presente no campo de ataque, impedindo que a Alemanha mantivesse a posse de bola com tanta facilidade. Mesmo tendo ao banco de reservas dois treinadores que se mostraram qualificados ao longo da competição, o jogo não era dos mais melhores.

Com a queda de rendimento da equipe, Joachim Low resolveu mexer aos 23: Schurrle substituiu Klose, que pela primeira vez foi titular na competição. Com isso, Muller passou para a posição de centroavante, com Schurrle atuando aberto pela ponta direita. Já Deschamps fez uma troca de cunho ofensivo pouco depois, abrindo mão dos três volantes: saía Cabaye, entrava Remy. Se a França se lançava cada vez mais ao ataque, a Alemanha tinha cada vez mais o contra-ataque à sua disposição. Em um deles caiu nos pés de Schurrle bela chance de ampliar, mas ele parou em Lloris.

O time alemão, que já se faz fantástico com seus jogadores de linha, torna-se ainda mais encantador tendo um goleiro da qualidade de Manuel Neuer. Se apareceu de forma brilhante na primeira etapa para salvar chute de Valbuena, apareceu de forma mágica no minuto 93 do jogo, impedindo que o chute de Benzema tomasse o rumo das redes. Instantes depois o apito final selou a classificação alemã.

Sobre a França, cabe destacar que o time montado por Deschamps mostrou boas virtudes. A constante chegada dos volantes à frente é um grande trunfo, mas que nem sempre funcionou. Benzemá foi bem, mas em alguns momentos o sistema não o favoreceu. Acho que o mais interessante seria manter Deschamps e dar a ele a missão de melhorar o time, mantendo a base, com o objetivo de fazer a França realizar uma grande Eurocopa em 2016 diante da sua torcida.

Quanto à Alemanha, acredito que é bem possível ser apresentado um futebol de melhor qualidade, mas o que ela vem jogando já a faz um time muito difícil de ser batido. Seleção boa do goleiro ao centroavante (leia-se de Neuer a Klose ou Muller), passando por uma defesa segura (leia-se Hummels é excelente) e um meio-campo de muita qualidade (leia-se Schweinsteiger é brilhante). Pela segunda Copa consecutiva, Joachim Low leva a Alemanha às semifinais. Agora, ele espera que o desfecho seja diferente: que a derrota para a Espanha na África do Sul dê lugar a uma vitória sobre Brasil ou Colômbia e a consequente vaga na grande final.

JOGO 56: SE MELHORAR ESTRAGA: BÉLGICA ELIMINA ESTADOS UNIDOS COM ATUAÇÃO DE GALA

Por Eduardo Riviello


Salvador foi mais uma vez o endereço de um grande jogo nessa Copa do Mundo. Desde a goleada holandesa sobre a Espanha, a Fonte Nova vem sendo agraciada com apresentações para serem guardadas na memória. E se a Bélgica jogou toda a fase de grupos na região Sudeste, era chegada a hora de os comandados de Marc Wilmots darem o ar da graça na capital baiana. Deram não somente o ar da graça como também um espetáculo para nordestino nenhum colocar defeito: com sua melhor atuação na Copa até então, a seleção belga conseguiu superar a bem postada seleção estadunidense para arrancar uma classificação que só saiu na prorrogação, em mais um jogo de oitavas-de-final dramático. Foi o quinto jogo nessa fase que excedeu os noventa minutos regulamentares, um recorde na história do torneio. Bom para os amantes do futebol, pois assistir cento e vinte minutos de um bom jogo não acontece todo dia - embora esse Mundial possa estar a deixar-nos mal acostumados.

Logo no início da partida, Divock Origi mostrou por que ganhou a titularidade no time vermelho: acionado em lance de enfiada de bola, ultrapassou o adversário na base da velocidade e chutou firme, parando na primeira das muitas defesas do goleiro Tim Howard no jogo.

Aliás, para falar das defesas do goleiro Tim Howard no jogo talvez fosse necessário fazer um texto só para isso: durante os noventa minutos, o camisa um de barba avantajada realizou nada menos do que doze intervenções para assegurar o zero no placar, estabelecendo um novo recorde na competição (no total, foram dezesseis defesas!). Atuação antológica, para ratificar de uma vez por todas o quanto essa Copa vem tendo nos goleiros os seus principais protagonistas em diversas ocasiões.

A Bélgica tinha na agilidade do seu meio-campo e no constante apoio de seus laterais (principalmente o canhoto Vertonghen) duas ótimas ferramentas para criar chances. E os Estados Unidos da América eram algo mais do que um time que começa por um goleiro excepcional: tinham uma defesa compacta desde o esforçado Cameron até o inesgotável Beasley, passando pelas muralhas Gonzalez e Besler, contando ainda com a proteção de um Jones que contagiava pela entrega e determinação. Um volante que vale por dois! Tanto é assim que Zusi e Bradley tinham a liberdade de avançarem com alguma freqüência (Bradley mais do que Zusi), compondo com Johnson e Bedoya as principais parcerias para Clint Dempsey. Mas a verdade é que o time comandado por Jürgen Klinsmann ficou a maior parte do tempo mais preocupado em como deter os belgas do que em como chegar à meta defendida por Courtois. Até porque aquele monte de jogador talentoso vestindo vermelho do pescoço ao tornozelo era um constante tormento para os estadunidenses. Entre as muitas oportunidades criadas pela Bélgica, uma merece destaque pela incrível intervenção de Howard. Sem desmerecer nenhuma das outras, mas quando Origi passou para Mirallas e o chute do camisa onze foi parado pelas pernas de Howard, estávamos diante de uma das maiores defesas nessa Copa repleta de grandes goleiros. Simplesmente sensacional.

Aí você pensa: então tudo bem, diante disso, o destino é mesmo a prorrogação. Correto raciocínio. Afinal, a Bélgica criou, tentou, construiu, infiltrou, tabelou, finalizou e... nada de gol, tudo de Howard ou da defesa estadunidense. Só que o jogo teve como destino a prorrogação também por um outro motivo, e esse motivo em particular levou Klinsmann à loucura: é que, no último lance, Wondolowski (que entrara no lugar de Zusi), chutou para fora quando estava de frente para o gol. Era a bola do jogo!

Veio a prorrogação. E se quem procura, acha, a Bélgica finalmente encontrou aquilo que buscou o jogo inteiro. Aos dois minutos, De Bruyne recebeu de Lukaku, se livrou de dois adversários e não desperdiçou a chance, conseguindo superar Howard com uma finalização firme no canto direito. 1a0 Bélgica, enfim!

Se o primeiro tempo na prorrogação começou bem para a Bélgica, o final foi ainda melhor: aos catorze, De Bruyne devolveu a gentileza e, em contra-ataque velocíssimo, acionou Lukaku. O camisa nove, outrora titular mas que dessa vez veio do banco, chutou com força para marcar o segundo gol belga e mostrar que a disputa com Origi por um lugar no time é boa para todos.

No intervalo, vi gente em rede social dizendo que já estava certa a classificação belga para enfrentar a Argentina e o adeus estadunidense para passar a pensar na Rússia-2018. Calma, pessoal. Vimos no dia anterior a Alemanha abrir 2a0 na prorrogação e sofrer para não ceder o empate para a Argélia. Calminha aí que o assunto aqui é futebol. E logo no começo do segundo tempo, os fatos me deram razão: Green, que acabara de entrar em campo no lugar de Bedoya, recebeu ótimo passe de Bradley na área e "inventou" de marcar seu primeiro gol com a camisa da seleção em plena prorrogação de Copa do Mundo.

Na base da garra, os EUA foram com tudo para tentar o empate. Era tanto empenho e entrega que chegava a ser difícil não desejar que houvesse sucesso nessa empreitada. Só que, pelo conjunto dos cento e vinte minutos, aquela vaga nas quartas-de-final não poderia ter outro destinatário que não fosse a Bélgica. A equipe conseguiu se segurar e, mais do que isso, avançar em contra-ataques que deixaram o jogo frenético. Nem o cansaço teve vez para aquela molecada boa de bola - e de cabeça. Disciplinada taticamente, esbanjando talento e sem abdicar de atacar em momento algum, a Bélgica fez por merecer a classificação. E traz com essa classificação uma certeza: esse blogueiro é um sortudo por ter ingressos para assistir Argentina e Bélgica pela fase quartas-de-final. Como não pensar nisso nos próximos três dias?

JOGO 55: QUANDO O ANJO DIZ AMÉM: ARGENTINA ELIMINA SUÍÇA

Por Eduardo Riviello


Argentina e Suíça encontraram conjuntamente o equilíbrio de seus times. Na fase de grupos, ambas as seleções oscilaram de um jogo para outro e também dentro de cada partida analisada isoladamente. Dessa vez, nas oitavas-de-final, Alejandro Sabella e Ottmar Hitzfeld parecem ter conseguido um ponto ideal para balancear defesa e ataque. Aparentemente simples, tal tarefa é digna de elogios. Ainda mais quando se trata de um torneio curto e competitivo como uma Copa do Mundo.

O equilíbrio da Argentina enquanto Argentina e o da Suíça enquanto Suíça proporcionaram um jogo que só poderia ser... equilibrado. Isso já bastaria para dizermos que estávamos diante de mais uma boa partida no Mundial. Só que o jogo em São Paulo foi mais que isso. E muito se deve à postura suíça, pois os argentinos fizeram exatamente aquilo que deles se espera. Gökhan Inler e Valon Behrami, parceiros de Napoli, eram as pilastras que sustentavam todo o esquema tático vermelho. Mas que desabariam se não fossem as bases bem acimentadas com Stephen Lichtsteiner e Ricardo Rodríguez nos flancos, Granít Xhaka ao centro e a dupla Xherdan Shaqiri (possivelmente o melhor jogador da equipe no jogo) e Admir Mehmedi. Claro que todo o esforço desses atletas seria em vão se não fosse a determinação de Johan Djourou e a de seu companheiro de zaga Fabian Schär. Com todos os méritos de conseguir conter jogadores como Lionel Messi, Ezequiel Lavezzi e Ángel di María (o que por conseqüência acaba neutralizando aquele que é abastecido por esses três, o centroavante Gonzalo Higuaín), a Suíça teve como principal - e talvez único - pecado no primeiro tempo o fato de não aproveitar as oportunidades que lhe surgiram. Uma foi com Xhaka, que chutou rasteiro e o goleiro Sergio Romero conseguiu rebater com a perna. Outra foi com Josip Drmic, que recebeu ótima passe de Shaqiri, avançou livre e, na tentativa de fazer um golaço por cobertura, acabou facilitando a defesa de Romero.

A Argentina cresceu no segundo tempo. Cresceu porque conseguiu manter-se firme na defesa ao mesmo tempo que subiu de rendimento quando com a posse de bola. Higuaín teve uma oportunidade em cabeceio, defendida por Diego Benaglio. Messi atraía a marcação de três adversários quando carregava a bola, conseguindo distribuir a redonda para os companheiros desmarcados. O lateral-esquerdo Marcos Rojo desperdiçou um desses presentes do camisa dez.

Com Xhaka amarelado e pouco efetivo, Hitzfeld optou por colocar o cabo-verdiano Gelson Fernandes em seu lugar. Sabella trocou Lavezzi por Rodrigo Palacio. E foi a alteração de Sabella que deu maior efeito prático no jogo: a aproximação entre Palacio e Higuaín possibilitou mais opções para Messi e Di María no momento da criação de jogadas, e a bola parecia ficar cada vez mais próxima da área suíça. Só que entre colocar a bola na área e colocar a bola na rede vai uma diferença. Então, o jogo foi para a prorrogação.

Na prorrogação, quem subiu de produção de maneira decisiva foi Di María. Era visivelmente o jogador argentino em melhor forma física, conseguindo causar grandes dificuldades à defesa adversária com arrancadas que se dava ora pela esquerda, ora pela direita. Um lindo chute de fora da área só não entrou no ângulo esquerdo porque Benaglio conseguiu ir até lá para espalmar. Só que se Di María sobrava, outros jogadores sentiam o peso do cansaço de um jogo duro e em horário ingrato. Rojo e Fernando Gago, exaustos, deram lugar para Basanta e Biglia. Sabella mostrava com essas alterações que não desejava realizar transformações estruturais na equipe, confiando naquela disposição tática. E seu instinto mostrou-se preciso: aos doze minutos no tempo derradeiro, Messi mandou para Di María e o camisa sete mandou cruzado para fazer o gol argentino. Um verdadeiro Ángel di María!

A partir dali, cada minuto restante pareceu uma eternidade para a Argentina manter a vantagem no placar. O goleiro Benaglio virou atacante, juntando-se a sete ou oito suíços na área adversária. Na oportunidade mais incrível, Blerim Dzemaili, que entrara no segundo tempo na prorrogação, cabeceou na trave direita de Romero. A bola ainda voltou nele, só que não foi possível direcioná-la para dentro. Shaqiri ainda cobrou uma falta que representava a última chance de levar o jogo para os pênaltis. E a Brazuca ficou na barreira.

A Argentina, com as bênçãos do papa Francisco, a colaboração do gênio Messi e a graça do anjo de Maria, avança em direção ao paraíso. E se a maçã era o símbolo do pecado na história de Adão e Eva, agora é outro fruto que passa a requerer todo o cuidado do mundo à seleção albiceleste: a laranja. Só que antes, muito antes de pensar nela (ou na perigosíssima Costa Rica), há que se ter vigilância com os Diabos Vermelhos.

sexta-feira, julho 04, 2014

JOGO 54: APÓS JOGAÇO DE DUAS HORAS, ALEMANHA ELIMINA ARGÉLIA

 Por Eduardo Riviello


Alemanha e Argélia jogaram a última partida sediada no estádio Beira-Rio nessa Copa do Mundo. E fizeram o melhor jogo de oitavas-de-final até o momento no Mundial. Num confronto tático em todos os setores do campo, dinâmico na posse de bola de ambas as seleções e surpreendente na mútua intensidade apresentada pelas equipes, alemães e argelinos proporcionaram duas horas de bom futebol em Porto Alegre. Para felicidade dos amantes desse esporte. E para aniquiliar aquele papo de que "camisa faz diferença". Não faz nenhuma! Arranque os escudos de ambos os uniformes e duvido que alguém seja capaz de dizer quem era a tricampeã mundial e quem era a equipe que muitos diziam que não passaria da fase de grupos.

Aliás, temos muito a aprender com a representante do norte da África. Sem nenhuma badalação antes da Copa começar, fizeram uma campanha onde jogaram de igual para igual com a elogiada Bélgica, anotaram quatro gols na Coréia do Sul após grande performance no primeiro tempo, foram buscar o empate da classificação diante da disciplinada e competitiva seleção da Rússia e fizeram uma atuação maiúscula do primeiro ao último apito diante da poderosa Alemanha. Cento e vinte minutos marcados por um equilíbrio brutal, conseguindo anular muitas das virtudes de um adversário repleto de qualidades e explorar falhas que não tinham aparecido na fase de grupos - possivelmente porque portugueses, ganeses e estadunidenses não foram capazes de encontrá-las. Ou talvez de "inventá-las".

Manuel Neuer, um dos melhores goleiros do mundo, jamais mostrou tantas vezes com a camisa da seleção alemã o quanto o convívio com Josep Guardiola no Bayern de Munique lhe é proveitoso. Vimos no Rio Grande do Sul um Neuer mais líbero do que nunca, precisando abandonar a grande área diversas vezes para ser aquele jogador alemão a evitar o gol no contra-ataque adversário. E que contra-ataques! Já com dez minutos de jogo, a equipe comandada por Vahid Halihodzic deu duas mostras de que os lances de velocidade seriam um recurso interessante para entrar na defesa da Alemanha: Islam Slimani, sempre atento, conseguia deixar qualquer um para trás quando lançado. Mas Neuer, no melhor estilo goleiro-linha, fazia uma leitura perfeita do lance para realizar a interceptação.

Para criar ainda mais dificuldades a uma defesa vulnerável à velocidade de Slimani, a Argélia tinha também no talento de Sofiane Feghouli uma ótima opção para bagunçar o sistema defensivo alemão. Na marcação individual, não houve quem desse conta de neutralizá-lo. Foram cerca de dezoito minutos de domínio argelino, com direito a gol anulado para manter o placar zerado. E se Feghouli e Slimani apareciam bem no setor ofensivo, há que se destacar também as participações de jogadores como Ghoulam e Mandi, que fechavam os flancos e detinham jogadores como Schweinsteiger, Kroos, Götze e Özil, além de serem ágeis na hora de ligar os contra-ataques. E o goleiro M'Bolhi, que fez uma defesa espetacular no primeiro tempo, viria a aparecer mais tarde como grande nome no jogo.

Joachim Löw mexeu no intervalo: trocou Götze por Schürrle. Uma tentativa de ter maior presença na área e de aumentar a participação de Müller. Válida tentativa. Só que esse tipo de alteração não cria imunidade ao contra-ataque e a Argélia quase abriu o placar em rápida escapada de quatro contra quatro. Não estava nada fácil para Mustafi, Mertesacker, Boateng e Höwedes!

Com dificuldade para entrar numa zaga muito bem postada, a Alemanha tentou de fora da área: aos nove minutos, Lahm acertou lindo chute e somente não abriu o placar porque M'Bolhi fez o que considero ter sido a mais espetacular defesa na Copa do Mundo até o presente momento. Simplesmente sensacional o sutil desvio conseguido pelo goleiro argelino, que saltou em direção ao ângulo direito em lance de uma plasticidade cinematográfica.

Aos vinte e quatro minutos, uma contusão de Mustafi obrigou Löw a tirá-lo do jogo. Mustafi havia aparecido bem em lance pelo alto (defendido por M'Bolhi), mas fora isso, foi elemento pouco participativo quando a Alemanha tinha a posse de bola e facilmente envolvido quando a Argélia atacava. Ou seja, a sua saída acabou não sendo um mau negócio - uma pena, é claro, que por motivo de contusão. Khedira entrou em seu lugar, assumiu a posição de volante ao lado de Schweinsteiger e Lahm passou a ficar mais aberto pela direita.

A Alemanha cresceu. E, junto com ela, se agigantou a defesa da Argélia. Mostefa, Belkalem, Halliche e o incansável Ghoulam eram cada vez mais convidados (leia-se intimados) a agir para salvar a pátria. Importante não esquecer a contribuição de Lacen, uma barreira entre o meio-campo e a defesa. E para assegurar o placar zerado, M'Bolhi não permitia que bola nem pensamento passassem por ele. Halihodzic acrescentou habilidade no setor de meio-campo quando, aos trinta e dois, colocou Brahimi no lugar de Taider. Só que os últimos minutos foram, no geral, de predomínio alemão. E o 0a0 persistiu só para enganar os desavisados - um resultado que em nada refletia o que se tinha em campo.

Veio a prorrogação e, já no segundo minuto, o gol alemão: Müller cruzou da esquerda, Schürrle se antecipou à marcação e estufou a rede argelina, em bonita finalização. Era o vigésimo sexto gol na Copa de alguém vindo do banco de reservas, um recorde na história do torneio. Aos seis minutos, novo golpe na Argélia: o capitão Halliche, de precisão quase impecável no tempo de cada jogada que exigia sua participação, não tinha mais condição de continuar em campo e saiu para a entrada de Bougherra. Três minutos depois, o bósnio Halihodzic trocou Soudani, figura isolada no comando de ataque, por Djabou. E passou a ganhar território no meio-campo. Ainda antes do intervalo, Mostefa quase empatou a partida.

Veio o segundo (leia-se quarto) tempo do ótimo jogo. Se a Argélia tinha conseguido ganhar presença na meiuca quando da entrada de Djabou, a Alemanha sofria um revés: por cansaço, Schweinsteiger precisou ser substituído. Kramer foi o escolhido para entrar em seu lugar, aos 3' (ou 108'). No novo rearranjo de jogadores e nas novas disputas por posse de bola e espaço no gramado, a Alemanha conseguiu conter o ímpeto argelino e ainda levava perigo no ataque. Principalmente porque, naquela altura da partida, surgiam clarões na defesa da Argélia. Num deles, Schürrle e Özil entraram na área como quiseram, a defesa salvou praticamente em cima da linha a finalização de Schürrle mas, no rebote, Özil mandou firme para a rede. Um 2a0 para confirmar a classificação. Certo?

Errado. Era a Argélia, a valente Argélia do outro lado. Mesmo depois de sofrer o segundo gol aos catorze do segundo tempo da prorrogação, o time se lançou ao ataque na base da garra e da determinação. E, também do talento e da organização. Aos dezesseis, Feghouli cruzou da direita e Djabou completou de primeira, descontando e mostrando que nada estava definido. Os alemães queriam o apito final. Os argelinos, movidos pela esperança, ainda tiveram oportunidade em uma bola alçada na área. Slimani cabeceou. E Neuer ficou com ela: a bola. Para a Alemanha ficar com ela: a classificação. E nós, amantes do futebol, ficarmos com ela: a sensação de ter assistido um grande jogo.
Argelinos relembram vitória sobre os alemães no Mundial de 1982: equipe africana mostrou força e por pouco não conseguiu novo triunfo diante dos europeus numa Copa do Mundo. Fica a lembrança de uma grande partida.

JOGO 53: COM O DEDO DE DESCHAMPS,FRANÇA ELIMINA NIGÉRIA

Por Eduardo Rivillo


O bom futebol apresentado pela França na fase de grupos demorou para aparecer nas oitavas-de-final. Não saberemos até que ponto isso se deve ao fator psicológico de ser um jogo eliminatório ou de ser a Nigéria uma equipe que encontrou melhores fórmulas que Honduras, Suíça e Equador para medir forças com os franceses. Mas o fato é que, por mais que tenha demorado, o bom futebol da seleção comandada por Didier Deschamps apareceu. Foi em algum momento depois do intervalo no estádio Mané Garrincha, mais precisamente após o minuto 62, quando o técnico capitão de 1998 colocou Griezmann no lugar de Giroud. Apareceu. Poderia ter sido tarde, pois ainda no primeiro tempo os nigerianos tiveram um gol de Emenike anulado por questão de centímetros. Poderia ter sido tarde também porque a França contou com a complacência do árbitro estadunidense Mark Geiger para continuar com onze em campo: a entrada de Matuidi em Onazi, que lesionou o camisa dezessete, era digna de expulsão.

Contudo, com tudo isso salvando a França do que poderia ser um primeiro tempo trágico, houve algo de bom por parte dos Azuis antes do intervalo: em lance onde Pogba tabelou com Valbuena, só não tivemos um dos gols mais bonitos na Copa porque Enyeama realizou uma das mais belas defesas no Mundial. Que goleiraço!

Veio o segundo tempo e cada minuto que avançava no cronômetro parecia dar mais esperanças às Águias. Em lances como o chute firme e rasteiro de Odemwingie, que foi bloqueado em defesa difícil de Lloris, parecia estar sendo construída mais uma surpresa na Copa do Mundo 2014. Até porque o ataque francês era naquele momento inofensivo: Benzema não conseguia dialogar com Giroud, os avanços de Pogba e Matuidi eram bem vigiados por Gabriel (que substituiu Onazi, vítima de Matuidi) e Obi Mikel. A França, talvez pela primeira vez no torneio, vinha se tornando um time previsível.

Foi então que Deschamps teve uma visão. E mudou o jogo numa substituição: Griezmann no lugar de Giroud. Não abriu mão de jogar com três volantes, mesmo quando dois deles pareciam suficientes para conter uma Nigéria onde Musa estava apagado e Moses também pouco rendia no campo de ataque, isolando Emenike e sobrecarregando Odemwingie. Enyeama passou a ser mais exigido, praticando defesas espetaculares, como em lance onde Benzema surgiu cara-a-cara, parou no goleiro e ainda viu Moses afastar praticamente em cima da linha final. Os nigerianos foram também salvos pelo travessão, após chute de longe de Debuchy. Mas, aos trinta e três, não houve salvação: escanteio cobrado pela esquerda, Enyeama não conseguiu afastar e Pogba aproveitou o raro vacilo do goleiro para cabecear na rede.

Com Griezmann bem no jogo, Valbuena sobrando por todos os cantos do campo, Benzema subindo de rendimento ao lado dos companheiros e a vantagem no placar, a França finalmente mostrava algo próximo àquela França dos três jogos anteriores. Stephen Keshi demorou para tomar alguma providência, só mexendo no time aos quarenta e três: Nwofor no lugar de Moses. Era a segunda alteração e ele preferiu não fazer a terceira. Até porque, pouco depois, Valbuena avançou pela direita em liberdade, cruzou rasteiro buscando Griezmann e Yobo, zagueiro nigeriano, fez a tarefa do atacante francês, desviando para a rede. Aí não tem Enyeama que dê jeito. 2a0 França, que avança. Pela frente virá o vencedor de Alemanha e Argélia. Ou seja, teremos ou um encontro de gigantes ou de rivais históricos na geopolítica mundial. Liberdade, igualdade e fraternidade, antes de mais nada.