segunda-feira, agosto 22, 2016

QUE O OURO NÃO FAÇA O BRASILEIRO ESQUECER O QUÃO ATRASADO NOSSO PAÍS ENCONTRA-SE NO FUTEBOL

Por Danilo Silveira
 Confesso que durante os jogos olímpicos do Rio, o futebol não foi o esporte que mais acompanhei. Ainda assim, consegui ver um joguinho ou outro.

O que logo me chamou atenção foi o baixo nível da competição. Obviamente que se dá um desconto pois as equipes jogam com o time todo, ou quase todo, sub-23 (cada seleção pode levar até 3 jogadores acima desta idade). E se no Brasil já se faz um time forte sub-23, imagina quando um dos atletas acima de 23 anos é o Neymar?!

Só que o jogo de estreia mostrou que o Brasil estava longe, mas muito longe de apresentar o futebol que se era esperado de um time que conta com Gabriel Jesus, Neymar, entre outros. Um 0x0 contra uma África do Sul que mostrou-se para lá de frágil.

O Brasil seguiu o seu caminho, empatando com Iraque, vencendo a Dinamarca e a Colômbia, enquanto eu segui meu caminho, assistindo o basquete, o handebol, entre outros esportes, que mais me interessavam do que o futebol, que já assisto demais ao longo do ano. Parava de vez em quando para ver um pedacinho ou outro de algum jogo, e sinceramente, não vi muito coisa que me agradasse. Veio a semifinal e assisti alguns minutos da goleada do Brasil sobre Honduras, que se mostrou um oponente muito frágil.

Viria então a grande final.Viria então a Alemanha (logo a Alemanha). Em pleno no Maracanã, vestido de verde e amarelo. Impossível não relembrar 2014, impossível não pensar nos 7x1. Alguns brasileiros falavam em revanche, algo que me parece surreal, pois o cenário é completamente diferente, a competição é diferente, as equipes são diferentes. Dos 7x1 para cá, pouca coisa parece ter mudado, por sinal. O Brasil continua sem entender futebol e a Alemanha continua mostrando excelência nesse esporte.

Comecei a ver o duelo, e mesmo sabendo da discrepância que há entre a forma de enxergar futebol da Alemanha e do Brasil, o time verde e amarelo soava-me favorito. Parecendo ser um time de melhor qualidade, o Brasil tentava tomar a iniciativa do jogo diante de uma Alemanha, fria, gelada, esbanjando consciência daquilo que fazia dentro de campo. O Brasil parecia esbarrar na sua própria afobação. Aí veio o talento de Neymar, que em uma cobrança de falta espetacular, abriu o marcador.

Talvez pudesse ser o caminho aberto para uma goleada, ou algo do tipo. Mas, do outro lado estava a Alemanha, que em momento algum se desesperou, que não perdeu sua organização. Veio o segundo tempo e com ele, o empate alemão. Após cruzamento da direita, um bonito chute para as redes brasileiras. Um gol que lembrou em alguma coisa um dos sete sofridos pelo Brasil no fatídico 7x1.

Os minutos se passavam e cada vez mais ouvia-se um grande silêncio no Maracanã. Apreensão, medo, nervosismo. O futebol que o Brasil apresentava passava longe de ser o ideal, mas era bem superior do que nos acostumamos a ver com Dunga e Felipão. O time demonstrava organização, e parecia mais perto do segundo gol que a Alemanha. Mas além da defesa alemã, o Brasil precisava superar o próprio nervosismo e afobação, talvez o principal inimigo naquele momento. Nervosismo e afobação que poderia acarretar em mais que a própria não ocorrência do segundo gol brasileiro, mas na ocorrência do segundo gol alemão. Bem, no fim das contas, nem um nem outro. Nem os 30 minutos de prorrogação foram suficientes para que alguma das redes fosse novamente balançadas.

No resumo da obra, o Brasil foi ligeiramente superior a Alemanha. Foi o time que mais buscou o gol, mas não necessariamente o mais organizado. As cobranças de pênaltis escolheriam com quem ficaria o ouro, e a essa altura, estaria merecido para qualquer uma das duas seleções, analisando-se os 120 minutos anteriores.

Veio então a defesa de Wéverton, na única cobrança desperdiçada. Veio em seguida o encontro do chute de Neymar com as redes. Veio então o tão sonhado ouro para a seleção brasileira de futebol.

Ouro esse que veio de uma tamanha desorganização. Até alguns meses antes, Dunga seria o comandante da seleção nos jogos olímpicos, o que prova que o Brasil pouco evoluiu dos 7x1 para cá. Sorte daqueles que sonhavam com esse ouro, que apareceu Rogerio Micale no caminho. Se ele é bom ou mau técnico, sinceramente não tenho embasamento para dizer. Mas, pelo pouco que conheço do seu trabalho, parece se tratar de um técnico melhor que Dunga e Felipão, o que vamos combinar, não é tarefa tão difícil.

Esse ouro olímpico deveria servir para o Brasil começar a trilhar uma novo caminho para a sua seleção neste esporte, mas sinceramente, conhecendo as coisas por aqui, a tendência é piorar ainda mais. Vai ter gente achando que o Brasil voltou a ser o número um, que o Brasil está um grande maravilha no futebol e que daqui para frente é só alegria. Complicado! Até porque, estamos em sexto nas eliminatórias para a próxima Copa do Mundo (fora da zona de classificação). Além do mais, trocamos um pseudo-técnico (Dunga) por um técnico que tem seu estilo de jogo não muito condizente com o que deve-se esperar do futebol apresentado pela Seleção Brasileira, o tal do futebol-arte. Tite é melhor que Dunga, melhor que Felipão e melhor que Mano? Sim, óbvio! Mas isso não faz dele o técnico ideal para dirigir a Seleção Brasileira de futebol.

Que a mídia e a população cooperem, que não me venham com o discurso de "o campeão voltou", "O Brasil voltou a ser respeitado" "Vingamos o 7x1" "Assim que queremos ver nossa seleção daqui para frente.", pois esse tipo de discurso em nada ajuda, apenas atrapalha. Que tenhamos a consciência e o discernimento necessários para entender o futebol, para enxergar que estamos atrasados em quilômetros em relação a outros países. Entender que antes de pensar em não fazer feio mais uma vez na próxima Copa do Mundo, temos que melhorar muito para ganhar o direito de participar da próxima Copa do Mundo.

Caso contrário, esse ouro vai ser apenas um pontinho de alegria para a população no meio do caos.