segunda-feira, julho 14, 2014

JOGO 64: COMO NÃO ADMIRAR? ALEMANHA É CAMPEÃ DO MUNDO EM PLENO MARACANÃ!

Por Danilo Silveira



Como não se render ao futebol alemão? Como não admirar um time que joga de maneira tão bonita, que não precisa de pedaladas nem de dribles desconcertantes para ser espetacular? Como não admirar uma equipe de belos jogadores, mas onde o conjunto é que predomina? Como não admirar Messi? Como não admirar o baixinho que veste a 10 da Argentina, com talento nato e inteligência acima da média dentro de campo?

Fantástico foi o futebol por dar à Copa do Mundo de 2014 uma final entre Alemanha e Argentina. Cruel foi esse mesmo futebol por precisar, conforme as regras pré estabelecidas, dar ao confronto um perdedor. Lembrando a trajetória de ambas, analisando o que fizeram durante o jogo decisivo, já dava para ter a certeza que seria triste ver uma das duas sair do Maracanã sem o troféu.

Talvez nunca um prêmio tenha tido um sabor tão amargo para Lionel Messi quanto o de melhor jogador de uma Copa do Mundo. Por si só o prêmio o fará sempre lembrar que o título lhe escorreu pelos pés nos minutos finais da prorrogação. Messi parecia que não esteva mais de corpo presente ali no Maracanã quando foi receber o troféu. Sua cabeça parecia estar em outro lugar. O barulho dos milhares de alemães causavam um eterno silêncio em seu coração e o Maracanã lotado dava um vazio imenso à sua mente. Quando Messi terá outra oportunidade como essa de vencer uma Copa do Mundo, ninguém sabe! Talvez nunca! E ele sabe disso!

O chute de Gotze aos 113 minutos deu à Alemanha o título que lhe faltava para coroar uma geração. Talvez seja Joachim Low o principal responsável por ele. O treinador que fez a seleção ser forte em 2010 e não perder a força ao longo de quatro anos. Mesclou os jovens com os mais experientes da maneira aplausível. Soube reunir excelentes jogadores e formar um excelente time: Khedira, Kross, Lahm, Hummels, Schweinsteiger e companhia foram mais que a soma de seus talentos.

Low teve a coragem de jogar bem mais da metade do confronto final com apenas um volante de ofício, mesmo sabendo da qualidade ofensiva da Argentina. E olha que esse volante era Schweinsteiger, que chega constantemente ao ataque. Precisa o futebol que se formem mais Joachims Lows. Quem sabe assim teremos mais equipes como essa Alemanha. O título é puro e mero detalhe. Falo de futebol, de conceito, de estratégia. Transcende a barreira do placar final que o jogo lhe aponta.

Talvez o brasileiro ainda não entenda muito bem isso. Talvez ainda não saibamos lhe dar muito bem com essa história de jogar bem e vencer. Talvez a culpa não seja propriamente nossa. Talvez tenham nos ensinado dessa forma, tenham colocado em nossas cabeças a síndrome do vencer, que acaba por nos impedir de olhar para outra direção que não seja o resultado final que o placar aponta. Números, números, números...como se o resto não importasse. Tanta importância demos aos números que só fomos de fato perceber que estava tudo errado quando tomamos sete gols em um jogo. Os 90 minutos deveriam doer muito mais que o número sete, só que conosco é o contrário.

E nessa matemática, somamos 11 jogadores para cada lado e vemos a Alemanha enfrentar a Argentina. Mas talvez não consigamos perceber que Sabella fez da Argentina muito mais que 11 jogadores, assim como Low fez com a Alemanha. Tínhamos em campo dois times de futebol. Talvez seja difícil compreender que a soma de 11 jogadores aponte como resultado muito mais que propriamente o número 11. Talvez seja complicado entender que o troféu carregado por Lahm signifique muito mais que propriamente passar sete jogos sem perder.

O sistema defensivo argentino foi quase perfeito. A Alemanha tentou com o toque de bola e avanço de seus homens quebrar esse bloqueio. Já a Argentina liberava Higuain e Messi da marcação, objetivando roubadas de bola rápidas que pudessem pegar os dois em boas condições de aproveitar buracos deixados na defesa alemã. Dentro das propostas, cabe destacar que a Argentina teve mais perto de abrir o marcador. Cabe destacar ainda que as duas seleções apresentavam em suas estruturas um padrão de jogo, estratégias bem definidas.

Mas talvez a própria matemática ainda nos faça achar que somos os melhores, pois ganhamos cinco, enquanto os alemães ganharam quatro e a Argentina apenas duas. Não conseguimos ainda entender que o futebol é muito mais do que dividir, multiplicar, somar, diminuir. E esse tipo de situação só diminui nossa qualidade, aumenta nossa distância para o restante do mundo, dificultando a multiplicação de títulos. Mas parece que está tudo bem, até que alguém consiga chegar ao número cinco e nos alcançar.


Voltando a falar do melhor jogador do mundo, cabe destacar que Messi continua sendo o Messi. Aliás, adicionou ao seu currículo atuações excelentes em uma Copa do Mundo, que culminaram com o prêmio de melhor jogador da competição. Mas na sua essência como jogador, segue o mesmo. Talento nato. Inteligência pura com a bola nos pés. Talvez para alguns o empate com a Alemanha, que se tornou derrota na prorrogação, sirva para o rotular de alguma coisa negativa. Perdedor ou algo do tipo. Na verdade, perde quem ao invés de admirar um bom futebol fica preocupado única e exclusivamente com estatísticas e mais estatísticas.

Eu prefiro admirar o futebol. E nessa empreitada, tive gosto de assistir à final da Copa do Mundo. Mascherano teve atuação excepcional à frente da zaga argentina. Hummels foi um gigante na defesa alemã. Messi exibiu seu talento praticamente inigualável. Parece que até foi bom que os 90 minutos não tenham tido gol. É como se o placar ficasse em segundo plano. Como se fosse uma informação para os que assistiam à partida: "olhem o jogo, analisem tática e técnica. Esqueçam um pouco o placar!" Eu sei que é difícil. Há pessoas que não conseguem entender como pode um 0 x 0 ser considerado um bom jogo, pois acreditam ser o gol a grande graça do futebol. Talvez estejam certas! Talvez um 5 x 4 com duas defesas horríveis seja mais atrativo que um 0 x 0 de dois sistemas defensivos excepcionais. Depende do que se espera ao assistir um jogo de futebol.

O gol da Alemanha aos 113 minutos foi um mero detalhe, um simples acontecimento dentro de campo. Poderia ter saído ainda na primeira etapa: para a Argentina quando Higuain desperdiçou chance de ouro ou para a Alemanha em chute de Schurrle, defendido por Romero. Mas os deuses deram aos amantes desse esporte mais meia hora do bom futebol. O gol na prorrogação deu para Alemanha o título, deu à Argentina o vice. Mas, na prática, as duas seleções já estavam de parabéns pelo que haviam apresentado em solo brasileiro. Restava saber qual seria abençoada com o troféu. Ironicamente, não foi a seleção do Papa. Foi a fantástica Alemanha de Joachim Low!

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