Qualquer palavra usada para adjetivar a atuação do Chile
diante da Bolívia será menos impactante que a visualização dos 90 minutos de
partida disputada na capital Santiago. A admiração que tenho por Jorge
Sampaoli, desde os tempos de La U, só fez aumentar conforme os minutos se
passavam. Se o lamentável caso do envolvimento de Arturo Vidal em uma batida de carro influenciou negativamente na atuação chilena? Evidentemente, não! O Chile
trouxe o foco para o jogo de futebol da maneira mais perfeita possível: jogando
futebol.
E não foi pouco futebol que os chilenos jogaram, não. Difícil
estabelecer um só destaque em um jogo coletivo tão maravilhoso. Sánchez está
voando, o zagueiro Medel fez um gol digno de grande centroavante e Valdívia fez
jus ao apelido de mago com sobras, deixando até um pouquinho de crédito na
poupança.
Não é exagero dizer que em alguns momentos a mecânica de
jogo do Chile lembrou ao fantástico Barcelona. Troca rápida de passes curtos,
que envolvem o adversário de uma maneira muito agradável aos olhos de quem
assiste. Sabe aquela história de que o Chile é freguês do Brasil? Dessa vez,
acho que o melhor ao Brasil é a não ocorrência desse duelo, pois se a seleção
de Dunga enfrentar o atual Chile da maneira que jogou nos jogos contra Peru e
Colômbia, derrotar o Chile vai ser algo que extrapola o
improvável, flertando com o inimaginável.
Tudo começou a dar certo ao Chile muito cedo. Logo aos dois minutos,
Medel descolou um lançamento fantástico para Vargas, que aparentemente tentou
dominar para si mesmo, mas a bola correu e sobrou limpa para Aránguiz chutar e
abrir o marcador. A equipe de Sampaoli vê em Sánches um nome de grande peso. A baita temporada feita no Arsenal reflete no bom desempenho que ele
vem tendo na seleção de seu país. No entanto, ele ainda não havia balançado
as redes nessa Copa América. E ele precisou carimbar duas vezes a trave, em duas
cobranças de falta, antes de marcar seu gol. E quando ele veio, foi uma
pintura. O passe para Valdívia foi eficiente, a devolução de Valdívia foi
brilhante e o peixinho de Sánchez para ir às redes, magnífico: 2 x 0.
Veio o intervalo e Sampaoli mexeu na equipe, tirando
(provavelmente para poupar) Sánchez e Vidal, lançando Henríquez e Matías
Fernández. Mauricio Soria também trocou peças na Bolívia, lançando Bejarano e
Miranda nas vagas de Rodríguez e Veizaga. E o saldo disso tudo foi a manutenção
do que ocorreu na primeira etapa; o Chile sendo superior e a Bolívia
inofensiva. Nem a presença de Marcelo Moreno no setor ofensivo e a habilidade
de Pablo Escobar no meio foram capazes de fazer a Bolívia ter algum volume do
jogo ofensivo que se possa chamar de interessante. Ah! Cabe dizer que Marcelo
Moreno tem uma estatura em torno de 1,87m e é ótimo nas cabeçadas, enquanto
ambos os zagueiros chilenos têm menos de 1,80m. Isso vem a mostrar que a tese
de que zagueiro tem que ter uma estatura elevada não é uma verdade absoluta. O
sistema de jogo chileno faz com que essa estatura mais baixa que o habitual dos
zagueiros não seja um fator negativo.
Seguindo seu baile, o Chile chegou ao terceiro gol em jogada
coletiva muito bonita, que teve como desfecho um passe de Henríquez para
Aránguiz marcar seu segundo gol no jogo. Valdívia já havia tido boa atuação na
primeira etapa e no segundo tempo, com as saídas de Vidal e Sánchez, se tornou
o personagem principal. Tudo parecia passar pelo mago, que distribuía o jogo de
maneira impecável. Se na primeira etapa deu bela assistência para Sánchez
marcar, nos 45 minutos finais foi de seus pés que saiu um lançamento excepcional
para o zagueiro Medel infiltrar pela zaga adversária como um volante
surpresa e finalizar com categoria, como um camisa 9 sofisticado: 4 x 0. Talvez
o único gol chileno que não tenha sido bonito foi o quinto e último. Aliás, o
fato da ausência de beleza do gol se dá pelo fato de ter sido contra, pois se
fosse a favor seria um golaço. Após cruzamento da direita, Raldes cortou mal e
acabou encobrindo o goleiro Quiñones.
Diz a tabela da competição que o Chile pegará um dos
melhores terceiros colocados nas quartas-de-final. Pois vejam, quem diria,
enfrentar o Chile hoje parece ser tarefa bem mais complicada que duelar contra
seleções como Brasil e Uruguai. Aliás, caso haja um confronto entre Chile e
Uruguai ou Chile e Brasil, o Chile é amplamente favorito.
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