A Seleção Alemã foi em 2014,
é em 2018 e, possivelmente será por muito tempo, uma seleção com uma
identidade. Uma cara! Um jeito de jogar, de pensar, de produzir futebol. Tem
por trás disso tudo, Joachim Low. Um gênio, um pensador, um dos melhores
treinadores existentes nesse mundo. Tem o time na mão, as situações de jogo na
mente e, neste sábado, teve a sorte ao seu lado.
Não houve sequer um instante no estádio Olímpico de Sóchi em que a
Alemanha deixou de ser a verdadeira Alemanha. E isso é o mais encantador. O
futebol requer habilidade, técnica, inteligência, força física, força mental,
entre outras características. A Alemanha possui todas elas, mas a força mental
é absurda, invejável, incrível. Do goleiro ao atacante, passando pelo banco de
reservas!
Toivonen roubou bola no meio-campo e o contra-ataque
sueco terminou com Berg sendo puxado por Boateng na grande área. Pênalti claro
negado pelo árbitro Szymon Marciniak. Além da penalidade, Boateng teria que receber o
cartão vermelho, pois tratava-se de uma oportunidade clara e manifesta de gol.. Esse lance, ocorrido antes mesmo dos 15 minutos de jogo, mudou
os rumos da partida, mas não pode apagar o excelente jogo realizado entre Alemanha
e Suécia até o apito final.
A Alemanha sabia exatamente o que fazer. Rodava a bola
com qualidade, envolvia a Suécia, buscava espaços. Dominava inteiramente o jogo.
Acontece que do lado oposto, havia um adversário talvez tão consciente quanto a
Alemanha. A Suécia marcava de maneira forte, povoava a intermediária e parecia
saber direitinho os atalhos para conseguir chegar perto do gol de Neuer, ainda que não o fizesse com tanta frequência. O trio
Toivonen, Berg e Forsberg parecia esperar uma brecha, um erro alemão para sair
rápido em contra-ataque. E numa dessas, Toivonen parou na cara de Neuer. O
camisa 20 teve muita categoria ao encobrir um dos melhores goleiros do mundo, contou com a sorte do desvio
em Rudiger não mudar muito a trajetória da bola e saiu para, de joelhos,
comemorar a vitória momentânea em cima da campeã mundial.
A Alemanha continuou sendo a Alemanha!
O gol sueco trouxe ao jogo uma situação muito
interessante. Era natural e altamente provável que a Alemanha abrisse o
marcador da partida, pela qualidade do futebol apresentado e domínio amplo da
partida. E agora? Seria a atual campeã mundial superar tamanha adversidade? Uma
derrota na estreia e uma momentânea derrota para a duríssima equipe da Suécia, caso concretizada, mandaria a equipe de Neuer, Kross, Muller e companha muito mais cedo para casa. Os minutos da primeira etapa esgotaram-se, sem mais nenhuma
alteração no placar.
A Alemanha continuou sendo a Alemanha!
Low voltou para a etapa final com Mario Gómez na vaga de
Draxler. O gol de empate não demorou muito a sair. Logo aos dois minutos, uma
jogda pela ponta esquerda terminou com Marco Reus completando para as redes. Um
certo alívio para a Alemanha, que marcava ali o seu primeiro gol na Copa do
Mundo de 2018.
A pressão e o domínio dos alemães pareciam crescer um
pouco a cada minuto. Como se a cada dez minutos passados, a linha de marcação
mais ofensiva da Suécia fosse mais um passo para trás. Os comandados de Janne
Andersson pareciam até incomodados em só se defender, pareciam ter vontade de
sair para o jogo, mas a forma com a qual a Alemanha se impõe em campo parece
tornar qualquer adversário com pinta de time retranqueiro.
Ainda que o empate não eliminasse a Alemanha, faria com
que ela passasse a depender de outros resultados para avançar de fase. Mais
precisamente, a Suécia não poderia pontuar contra o México.
Os minutos foram se passando, o jogo não mudava de figura
e os suecos conseguiam manter o placar intacto. E aos 36 minutos veio o que
para muitos poderia ser um golpe fatal. Boateng foi imprudente, e já com cartão
amarelo, fez falta dura no campo de defesa. Segundo amarelo aplicado com
justiça (Boateng foi expulso!) e a Alemanha passou a ter um homem a menos (não que o pênalti não
assinalado na primeira etapa não tenha prejudicado muito a Suécia, mas o fato é
que a Suécia abriu o marcador pouco depois e, mais cedo ou mais tarde, Boateng
acabou expulso).
A Alemanha continuou sendo a Alemanha.
O homem a menos da Alemanha não trouxe desespero nem
mudança de postura na equipe de Joachim Low e o desenho tático da partida seguiu o mesmo. A Suécia tentava atacar, mas a
Alemanha não deixava, ficava com a bola para si, de pé em pé, buscando a melhor
forma de conseguir o gol salvador. O trabalho alemão é tão sólido, tão competente, que a equipe é
capaz de suprir o fato de ter um a menos. Foi como se a Alemanha continuasse
com 11 em campo.
E é na hora do aperto, nos momentos de maior dificuldade,
que a gente tem a oportunidade de “ver quem é quem”. Foi aí que Joachim Low
veio a reforçar que é um gênio. Tirou Hector e colocou Brandt. Sim, o treinador
alemão perdeu um zagueiro expulso e minutos depois tirou um lateral para colocar um jogador ofensivo em campo. Acredito que muitos, senão a maioria, tirariam um
homem de frente, recomporiam a zaga colocando um zagueiro, chamariam a Suécia
para o próprio campo, e tentariam achar um contra-ataque fatal. Mas a Alemanha, não!
A Alemanha continuou sendo a Alemanha!
Brandt quase virou o jogo em chute de fora da área, que
explodiu na trave direita de Olsen. Seria bonito de ver, seria até certo ponto
filosófico, já que era o meia atacante que o treinador tinha acabado de
colocar, na vaga de um defensor.
Os 45 minutos passaram, vieram os cinco minutos de
acréscimos e...
A Alemanha continuou sendo a Alemanha!
E até o fim a Alemanha foi a Alemanha. E o desfecho dessa
partida foi emocionante. Certamente, um dos grandes jogos dessa edição da Copa
do Mundo. Aos 50 minutos da segunda etapa, Toni Kross bateu falta curtinho pela
ponta esquerda, Reus deu aquela ajeitada e o mesmo Kross chutou cruzado,
vencendo o goleiro Olsen e colocando a Alemanha vivíssima na Copa do Mundo de
2018.
Muitos dirão que foi uma vitória de campeã. Eu vou além:
uma vitória de campeã, uma postura de campeã!
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