Marca, Combate, Marca, Combate...quando tem a posse de bola
a inspiração é muita pouca e sucumbe à correria. Corre, corre, corre, falta
lucidez, falta toque de bola qualificado. Jogando em casa, três volantes são
escalados. Futebol feio, pragmático, pouco admirável. Agora, possui uma vontade
incrível, um empenho impressionante, o tal “sangue nos olhos” parece imperar
nos onze que tem por incumbência vencer o oponente dentro das quatro linhas.
Os noventa minutos que separam o apito inicial e o apito
final são de muito mais transpiração que inspiração. Se para alguns, o objetivo
é fazer com que a inspiração ofensiva vença a marcação adversária, para Vanderlei
Luxemburgo o objetivo é inverso: é fazer com que a sua marcação impeça que a
inspiração adversária evolua dentro do gramado. O tal do “joga e deixa
jogar” é substituído pelo “não deixo jogar e jogo na base da correria, não da
inspiração”. Vence e convence a massa rubro-negra, carente de bom futebol
apresentado pelos seus times recentes, que esse é o melhor método para se
dirigir uma equipe de futebol.
Por lógica, deveria o Flamengo esbarrar, parar, nos melhores
times do Brasil. Mas a lógica do futebol se diferencia da lógica das demais
áreas da vida. E a lógica rubro-negra venceu Cruzeiro, Atlético/MG (duas vezes)
e Internacional. O rubro-negro fanático, apaixonado, louco pelo seu time do
coração, senta à frente da televisão ou nas cadeiras do Novo Maracanã, não para
ver o time jogar bem, apresentar-se de forma brilhante; ele senta para ver o
time ganhar, e mais nada. Se perder, sai reclamando da qualidade do time, se
ganhar, sai comemorando, sem exercer qualquer comentário em relação à qualidade
do futebol apresentado.
E a magia rubro-negra, espalhada por cada metro quadrado do
Maracanã, é capaz de tornar o improvável, real. Um contra-ataque, onde há dois
rubro-negros contra cinco alvinegros, transforma-se em penalidade máxima.
Gabriel driblou dois adversários e foi derrubado pelo terceiro. Chicão estufou
as redes: 2 x 0! E lá vai o Flamengo para Minas Gerais, carente por bom
futebol, sedento pelo título. Carente de um treinador que preza pela beleza do
futebol apresentado, mas que tem seu nome gritado pela massa, que pouco tem se
importado com qualidade do futebol apresentado, se apegando ao resultado o qual
o jogo acaba.
Quando se fala em futebol, em torcida, fica muito difícil
separar a razão da emoção. E talvez seja mesmo melhor para o torcedor
rubro-negro, deixar se levar pela emoção. Porque pela razão, fica muito difícil
concordar com Vanderlei Luxemburgo à beira do campo, vestindo vermelho e preto.
Fica difícil concordar que o Flamengo entre para um jogo no Maracanã com três
volantes e termine esse mesmo jogo com quatro volantes, atuando igual um time
pequeno, enquanto o adversário possui somente um volante entre os onze que em
campo estão.
Talvez seja difícil analisar de forma fria quando se está no
meio de uma competição. A sede pela vitória tem muitas vezes como resultado a
não preocupação com a qualidade do jogo proposto. Isso eu já estou mais do que
acostumado a ver. Aliás, não precisamos remeter a histórias muito antigas.
Basta ver o desempenho da Seleção Brasileira na última Copa do Mundo. Os rostos
pintados de verde e amarelo, as bandeiras tremulando país afora e o sentimento
dito nacionalista, contrastavam com uma equipe bisonha dentro de campo, abaixo
da linha do aceitável. O Mineirão veio a ser o placo que devolveu aos
brasileiros a consciência de que aquele time estava muito, mas muito aquém do
que se imaginava: SETE A UM! E que o trabalho estava sendo desenvolvido de uma
maneira equivocada, contribuindo e compactuando para o retrocesso do futebol
brasileiro.
O mesmo Mineirão onde o Flamengo enfrentará, na próxima
quarta-feira, o Atlético/MG, buscando garantir vaga na final da Copa do Brasil.
Terminada a partida em que o Atlético sapecou 4a1 no Flamengo, escancarando fragilidades numa equipe mal treinada (ou pior: mal orientada), as últimas seis linhas no texto tiveram ares proféticos. Bendito Mineirão!
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