sábado, julho 02, 2016

A RAZÃO ALEMÃ VENCEU A MÍSTICA ITALIANA: PARA O BEM DO FUTEBOL.

Por Danilo Silveira


De um lado a razão, que nos levava a crer que a Alemanha, um dos melhores times de futebol da atualidade, venceria a Itália, de nível bem inferior. Do outro lado, a fé, a mística e os poderes contrários à razão, que faziam muitos acreditarem na tal história que, mesmo com um time inferior, a Itália “sempre chega”, por ter tradição, pelo fato da camisa pesar.

Confesso que no futebol, entre a razão e a fé, costumo ficar do lado da razão, porque é algo mensurável, que os olhos enxergam. Se um time é muito melhor que o outro, é favorito, certo? Mas confesso ainda que respeito, porém sem admiração, a Itália e sua tradição de conseguir resultados acima do que o nível de seu futebol indica.

O intervalo chegou com o lado da fé em melhor situação que o lado da razão. Mais precisamente, a Alemanha não conseguiu criar muitas oportunidades de gol, desenvolveu seu futebol de forma inferior ao habitual e a Itália conseguiu truncar o jogo e manter o 0x0.

Veio, então, aos 19 minutos da segunda etapa, aquele balde de água fria na fé e na mística italiana. Após jogada e cruzamento da ponta esquerda, Ozil apareceu na área para finalizar e anotar o seu primeiro gol nesta edição da Eurocopa (contra a Eslováquia ele havia perdido uma penalidade). Por sinal, era o primeiro gol sofrido por Buffon nesta Euro.

Era um passo enorme, gigantesco, para a razão se sobrepor à mística italiana. Aquele pensamento de “A Alemanha realmente é muito melhor. A Itália até equilibrou o jogo, mas tava na cara que não iria suportar até o fim” começava a ganhar força.

Os adeptos da razão começaram a ver de perto a sua tese de que a Alemanha é superior e irá vencer cada vez mais perto. A Itália se desestruturou, se perdeu em campo, e em contraste, a Alemanha passou a ser a Alemanha a qual estamos acostumados: a que ocupa o campo ofensivo, encurrala o adversário e cria muitas situações ofensivas. Em uma delas, Mario Gómez só não anotou um golaço porque Buffon fez uma linda defesa para uma bela finalização de calcanhar. O fato era que o segundo gol alemão parecia questão de tempo.

Foi portanto aos 32 minutos, que após cruzamento da direita, a bola tocou no braço de Boateng: pênalti para a Itália. Detalhe que o zagueiro alemão parece ter aberto o braço justamente para não se apoiar no seu adversário e correr o risco de fazer uma penalidade. Ironia do destino. Bonucci bateu, converteu e colocou a discussão fé x razão em total evidência no duelo. Lá estava a Itália, aparentemente morta no jogo, a alguns minutos de conseguir levar para prorrogação o duelo contra a campeã mundial, detentora de um futebol exemplar. Os minutos se passaram e o apito de Viktor Kassai decretou que teríamos sim, a tal da prorrogação.

Lá foi a Itália, com peso na camisa de sobra e futebol em falta, jogar a prorrogação. Pior que não conseguir atacar, é não tentar. A Itália abdicou do jogo ofensivo, voltou seu futebol 99% para a parte defensiva, esperando que no 1% de jogo focado no ataque, viesse do céu de Roma, um gol salvador na cidade de Bordeaux. E o gol não veio do céu da capital italiana, mas também não veio do céu de Berlim. Viriam, portanto, os pênaltis.

Buffon de um lado, Neuer do outro. Já não parecia tão irracional assim a Itália passar. A mística italiana já tinha atuado em solo francês. Vencer Bélgica, Espanha e levar o duelo diante da Alemanha para a prorrogação já parecia um cenário divino. Zaza e Pelle perderam do lado italiano, e Ozil desperdiçou pelo lado alemão. Cabia a Schweinteiger a incumbência de chutar às redes e levar a Alemanha à semifinal. Naquele momento, parecia essa a lógica, o desfecho racional de um duelo já desenvolvido até então, um pouco distante das vias racionais. Pois,Schweinteiger isolou! A mística italiana apareceu de novo!

Lembrem-se, “sempre que a Itália parece morta, ela está mais viva do que nunca.” Frase irracional, incoerente, linguisticamente conflitante, que aproxima os opostos de maneira incabível à lógica. Caros, futebol não tem lógica.  Já se confundiam em campo a fé e a razão. Já parecia mais racional a Itália vencer as penalidades, depois de ter revertido cenários adversos. Já parecia que não daria para a Alemanha. Veio a série alternada, a Itália converteu três penalidades seguidas, assim como a Alemanha. A Itália cobrou primeiro, isto é, a Alemanha cobrou três penalidades com a obrigação de converter, caso quisesse continuar na Eurocopa. E  ela cumpriu a missão. Até que Darmian, na décima sétima cobrança da disputa, sendo a nona italiana, viu seu chute ser bloqueado por Neuer. Veio Hector com a incumbência de converter e colocar a Alemanha na semifinal. Batida na esquerda de Buffon, que acertou o canto, mas viu a mística italiana passar centímetros abaixo do seu corpo e morrer no fundo das redes.


Com todo o respeito que tenho à mística e ao peso da camisa italiana: ter a Alemanha na semifinal é muito mais encantador e legal para os amantes do bom futebol, do que ter uma Itália que precisar urgentemente repensar seu estilo de peso, ao invés de acreditar que a mística sempre será superior ao futebol.

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