segunda-feira, dezembro 28, 2020

OS ATALHOS PARA A DECADÊNCIA: O ATUAL CENÁRIO DO FLAMENGO

 Era por volta do final de junho, início de julho. O futebol tinha acabado de retornar no Brasil, depois de um tempo parado por conta da pandemia do COVID 19. O Flamengo estava prestes a disputar a final do Campeonato Carioca, contra o Fluminense. Mas, a possibilidade de mais um título estadual, não era a situação que mais deixava a diretoria, a mídia e a torcida apreensivas. O assunto do momento era a permanência ou saída de Jorge Jesus.

O melhor treinador da história do Flamengo estava prestes a trocar o rubro-negra da Gávea pelo Benfica. Era o que cravavam os jornais, a grande mídia. Jesus não conversava sobre o assunto. Fugia das perguntas. Os dias de indecisão do Mister foram preponderantes para o Flamengo sofrer. Jesus demorou uns 15 dias para decidir que embarcaria para Portugal, deixando o vermelho e preto da Gávea apenas na memória.

Essa demora na decisão, com a sua saída em sequência, foi dolorosa ao Clube de Regatas do Flamengo. O maior ídolo recente da Nação, abandonava o barco. Deixava títulos e mais títulos, somados a um futebol encantador, eternizados na memória de cada rubro-negro. Mas deixava também a problemática da diretoria precisar outro treinador às vésperas da estreia do Campeonato Brasileiro. Landim e a cúpula de futebol da Gávea decidiu que o novo comandante seria estrangeiro. Marco Braz prontamente rumou para a Europa. Ele não sabia o nome, mas a certeza era que voltaria ao Brasil trazendo na mala um novo técnico para a equipe. Novo técnico esse que não teria tempo para fazer pré temporada, não teria tempo para se adaptar ao novo país antes do Brasileirão começar. Seria necessário a torcida e a diretoria terem paciência para absorver novos conceitos de futebol, aliados a adaptação do novo treinador, conhecimento do elenco, da competição.

Pois aí está o grande problema. A torcida do Flamengo não tem paciência.

Domenech Torrent foi o escolhido para assumir o cargo de treinador do Flamengo. Assistente de Guardiola por muitos anos, tinha pouca experiência como treinador (Trabalhou nos EUA e na quarta divisão da Espanha), mas a bagagem de trabalhar ao lado de um dos melhores técnicos do mundo. O Barcelona de Guardiola inspirou e muito a Espanha, 2 vezes campeã da Eurocopa e campeã Mundial, com um futebol maravilhoso. Enquanto o Brasil sofria com Dunga, Mano Menezes, Felipão, Domenech estava lá, do lado de Guardiola, com um futebol que encantava o mundo. Presente maior, a torcida do Flamengo não poderia ter recebido. Era o início de uma nova era na Gávea.

Domenech sofreu demais. Encontrou um time fisicamente muito abaixo do esperado. Não tinha tempo para treinar. Um surto de COVID19 acometeu boa parte do elenco rubro-negro. O departamento médico vivia lotado. Mas, com todos os contratempos, Dome conseguiu implementar rapidamente seu estilo de jogo. O futebol apresentado pelo Flamengo encantava o Brasil e as vitórias começaram a aparecer, aliadas a um belo futebol. A capacidade que o time tinha de criar chances de gol era de dar gosto de ver. Em São Paulo, 5x1 no Corinthians. Na Bahia, 5x3 no Bahia. No Maracanã, 3x0 no Sport, 4x0 no Indeendente Del Valle. Isso tudo, praticamente sem tempo para treinar. 

Na Libertadores, classificação em primeiro do grupo, com 15 pontos. Na Copa do Brasil, classificação para as quartas de final, eliminando o atual campeão nas oitavas. No Brasileirão, vice-liderança, um ponto atrás do líder. Esse era o cenário o qual o Flamengo se encontrava no dia 09 de novembro de 2020. Ganhar as 3 competições, era um sonho da torcida, da diretoria e um caminho que parecia real ao Flamengo. Real, mas não tão simples. Dome ainda tinha muita coisa para arrumar. Seu sistema defensivo sofria demais, a equipe fazia muitos gols, mas também sofria muitos gols. Dos últimos 15 jogos, o Flamengo tinha perdido apenas dois. Duas goleadas, 4x1 para o São Paulo no Maracanã e 4x0 para o Galo, em Belo Horizonte.

 Eis que a torcida começou a pegar no pé do atual treinador. Sem motivo aparente, sem lógica e sem cabimento, uma corrente começou a pedir a demissão do treinador. E foi justamente no dia 9 de novembro de 2020 que o Flamengo cometeu o maior suicídio da sua história recente. Sob apoio de parte da torcida, Domenech foi demitido. Sim, é exatamente isso. Com 3 meses de trabalho, com possibilidade real de título em todas as competições, o Flamengo mandou o assistente de um dos melhores treinadores do mundo, de volta para a Espanha.

No dia seguinte, o Flamengo anunciava Rogério Ceni como seu novo treinador. Parece aquelas piadas de primeiro de abril, mas é verdade. O Flamengo demitiu o assistente do Guardiola segunda-feira, e trouxe Rogério Ceni na terça. 

Hoje, menos de 2 meses após a saída de Dome, o Flamengo está eliminado da Copa do Brasil, eliminado da Libertadores, 5 pontos atrás do líder do Brasileirão, jogando um futebol sofrível. Sendo que Rogério Ceni está com muito mais tempo para treinar a equipe, já que foi eliminado das competições de mata-mata.  

Já existe um grupo pedindo a saída de Rogério Ceni. O salvador de pátria em novembro, já está virando vilão em dezembro. Está o Flamengo voltando ao ciclo vicioso de trocar de técnicos a todo momento. Enquanto não desembarcar na Gávea um Novo Jesus, um treinador que chegue e ganhe tudo em pouco tempo, o Flamengo vai viver assim: se sabotando, se destruindo. Achando que o problema está no banco de reservas, sem perceber que o problema está na mentalidade amadora e arcaica com a qual o clube trata o futebol. Futebol é ciência, estudo, tempo de trabalho. Na contramão disso tudo, o Flamengo acha que é só contratar um treinador "que não atrapalhe", porque o clube tem o "melhor elenco do país".

Para se chegar ao topo é difícil. O caminho é duro, árduo. Para despencar lá de cima, os atalhos que encurtam o tempo são inúmeros. E o Flamengo pegou vários desses atalhos.

quarta-feira, dezembro 23, 2020

DIA DE TÉCNICO BRASILEIRO CAMPEÃO CONTINENTAL...TIGRES VENCE LIGA DOS CAMPEÕES DA CONCACAF!

Por Danilo Silveira

Sem os holofotes da grande mídia brasileira, foi disputada na madrugada dessa quarta-feira (23), a final da Liga dos Campeões da CONCACAF. Creio que o evento deveria ter sido muito mais noticiado do que foi. Primeiro, porque o técnico de uma das equipes é brasileiro. Segundo, porque os programas de debates esportivos perdem muito tempo discutindo coisas inúteis e sem fundamento, do que propriamente futebol. Para sorte dos amantes de bom futebol, a Fox Sports transmitiu a partida entre o Tigres, do México e o Los Angeles FC,  dos EUA, no estádio Exploria, na Florida.

Logo nos primeiros minutos, deu para perceber que as duas equipes tinham qualidade para jogar um futebol técnico e bonito, de bola rolando na grama, com poucos chutões. A equipe americana, comandado pelo também americano Bob Bradley (que dirigiu os EUA na Copa do Mundo de 2010), logo apresentou certa superioridade dentro do campo de jogo. Com destaque para a participação dos atacantes Carlos Vela e Diego Rossi, que apresentavam muita movimentação no campo ofensivo, dando trabalho à marcação. O Tigres, por sua vez, comandado pelo brasileiro Tuca Ferretti (tem dupla cidadania, é também mexicano),demonstrava de forma clara que a proposta de jogo era sair jogando com a bola rolando, de pé em pé. No entanto, essa tarefa não se tornava fácil, visto a marcação alta e bem conduzida do Los Angeles FC. É de se aplaudir a tentativa do Tigres em não efetuar o chutão, mesmo em momentos de marcação muito forte do adversário. Por inúmeras vezes, a bola foi recuada ao goleiro Guzmán, na tentativa de abrir novas linhas de passe, que possibilitassem o time sair dessa pressão do time americano sem ser na base de chutão.

A  bem da verdade, o duelo ficou aquém do esperado na primeira etapa. A marcação forte de ambas as equipes acabou tornando o jogo muito faltoso e poucas chances de gol foram criadas. Mas não dá para dizer que foi um primeiro tempo ruim. Podemos sintetizar a primeira etapa como um duelo onde duas equipes apresentaram boas propostas de jogo, que não foram concretizadas com muito sucesso,

A segunda etapa chegou e com ela um panorama bem diferente. Aí sim tivemos uma partida com cara de final. O Los Angeles aumentou a pressão logo nos minutos iniciais e conseguiu o gol que premiou a equipe que melhor jogava na partida até então. Aos 15 minutos, o volante canadense Kaye tabelou com Carlos Vela próximo à meia lua e efetuou um passe por elevação primoroso para Diego Rossi tocar de primeira, encobrindo o goleiro Guzmán. Um golaço! Gol esse que desencadeou uma melhora absurda no desempenho do Tigres, e por consequência, na qualidade da partida. A equipe mexicana (que além do treinador brasileiro, conta com o meio-campista brasileiro Rafael Carioca, ex-Vasco, lembram?) conseguiu enfim, transformar a sua boa ideia de jogo em algo mais notório dentro das 4 linhas. As trocas de passes se tornaram mais verticais, o campo ofensivo passou a ser mais povoado e o excelente atacante Gignac passou a aparecer mais na partida. 

Na mesma proporção que o Tigres conseguia atacar com mais desenvoltura e mais frequência, o Los Angeles ganhava campo para contra-atacar. Um segundo gol deixaria o Los Angeles com uma mão e meia na taça, enquanto o gol de empate deixaria o jogo eletrizante, com contornos de emoção bem elevados. Parecia certo, como 2+2 são 4, que uma das opções da frase anterior aconteceriam. Dito e feito! Aos 26 minutos, Nicolas López, que tinha acabado de entrar, cobrou escanteio para cabeçada de Ayala para o fundo das redes. Era o empate do Tigres! Falha feia do sistema de marcação da equipe americana, já que dentro da área tinham muito mais jogadores vestindo preto, do que vestindo amarelo.



O gol trouxe a tal emoção ao jogo. Parece ter feito bem demais ao psicológico da equipe mexicana, que passou a jogar melhor. A superioridade foi transformada em gol da virada, gol do título, aos 38 minutos. Luis Rodríguez arrancou no meio, caindo pela ponta direita e tocou para Gignac, que teve tranquilidade, frieza e categoria para bater de primeira, na altura da meia lua, no campo esquerdo do goleiro Vermeer. Depois de bater na trave algumas vezes, o Tigres enfim é campeão continental pela primeira vez. E Tuica Ferreti, consegue seu segundo título da competição na carreira (ganhou em 2003 com o Toluca).

Falando em Tuca Ferretti, aqui vai um parágrafo especial falando sobre ele. Não acompanho o futebol mexicano, até porque, sua transmissão não é tão comum em canais televisivos no Brasil. Mas lembro do Tigres em 2015, na Libertadores da América. O futebol apresentado era encantador e a equipe terminou com o vice campeonato. Nesta madrugada, voltei a assistir a equipe atuar, esperando ver um bom futebol. E assim foi.

Tuca parece ter o time na mão e faz a equipe jogar em futebol de uma qualidade muito acima do que se joga no Brasil. A mídia brasileira dá pouco cartaz ao treinador, nunca se cogitou colocá-lo na Seleção Brasileira, onde já tivemos recentemente nomes como Dunga e Mano Menezes. Realmente, o Brasil está muito atrasado quando o assunto é futebol. E não falo só dentro do campo. Falo em termos de entendimento de desporto, em gestão, em cobertura da mídia.

Talvez os bons treinadores não mereçam mesmo estar trabalhando em um país com conceitos tão arcaicos, onde o trabalho, o treinamento e a longevidade no cargo são coisas tão desprezadas. Parabéns ao Tigres pelo título! Parabéns a Tuca Ferretti pelo título e pelos 10 anos seguidos comandando a equipe do Tigres. 





segunda-feira, julho 27, 2020

COM BOA ATUAÇÃO, FULHAM VENCE O CARDIFF FORA DE CASA

Por Danilo Silveira

Confesso não ser eu acompanhante assíduo da segunda divisão do Campeonato Inglês, mas sempre que paro para assistir um jogo ou outro, fico pensando "como é boa a qualidade do futebol apresentado, tratando-se de uma segunda divisão." E nessa segunda-feira, foi a vez de assistir ao duelo entre Cardiff x Fulham, válido pelo Playoff de acesso, que dará ao vencedor, a chance de disputar a primeira divisão na próxima temporada.

O mais impressionante de se observar na partida, foi como as duas equipes não davam chutão, não rifavam a bola e tentavam ao máximo trabalhar a posse de pé em pé. O Fulham, jogando fora de casa, parecia sentir-se cada vez mais a vontade dentro da partida. Na metade da primeira etapa, já podíamos dizer que os comandados de Scott Parker atuavam melhor dentro de campo. A equipe tinha a paciência necessária para, aos poucos, ir encurralando o adversário no campo de defesa. Mas estava difícil penetrar. Os donos da casa fechavam bem a marcação tanto pelos francos, quanto pelo centro. Talvez, o que tenha faltado ao Cardiff para conseguir levar maior perigo no campo de ataque, tenha sido uma boa alternativa de contra-ataque, pra tentar pegar a defesa do Fulham aberta.

No primeiro tempo, o domínio do Fulham não se transformou em gol, mas na etapa derradeira, não tardou para a rede ser balançada. Aos 4 minutos, jogada iniciada pela ponta esquerda, que chegou até o centro, nos pés do Onomah. O camisa 25 estava cercado por vários jogadores de azul (marcadores do Cardiff), mas em uma das jogadas mais bonitas da partida, ele girou em cima de um adversário, deixou mais dois para trás e teve tranquilidade e classe para bater na saída do goleiro Smithies.

Agora sim o placar refletia aquilo que acontecia dentro de campo. E o gol fez muito bem ao Fulham. O domínio sobre o Cardiff foi ficando cada vez maior e mais evidente. Aos 25, Neil Harris mexeu 3 vezes na sua equipe, mas as trocas poucos fizeram efeito. Cada vez mais solto e envolvente em campo, o Fulham estava muito mais perto de ampliar, que de sofrer o empate. E o 2x0 veio em uma belíssima cobrança de falta do congolês Kebano. Gol para premiar a atuação do ponta-esquerda, que muito acionado, deu trabalho ao sistema defensivo do Cardiff durante os 90 minutos

Quinta-feira teremos o jogo de volta, na casa do Fulham. Pela vantagem conquistada no jogo de ida e pela superioridade do futebol apresentado, fica difícil enxergar o Fulham perdendo a vaga na final dos Playoffs.


domingo, julho 26, 2020

O NOVO CORINTHIANS, MAS COM JEITO DE VELHO.


O Corinthians joga feio. Já faz muito tempo. Há quem diga que essa tal identidade começou com Mano Menezes, há quem diga que começou com o Tite. Outros dizem que um iniciou e o outro aprofundou. Mas a questão principal aqui não é definir onde iniciou essa ausência de beleza como DNA do Timão. O importante é apenas pontuar que há anos o time joga feio, tem uma equipe reativa, que pouco cria, que mais se preocupa com a defesa que com o ataque.


Em 2020, Thiqgo Nunes chegou e parece que a ideia era mudar essa identidade do Corinthians. Haja trabalho e haja coragem para tal empreitada. O Corinthians se acostumou com a própria feiura no seu estilo de jogo. Foi assim que conseguiu suas maiores glórias. Ganhou Brasileiro, ganhou Libertadores, ganhou Mundial. Tite deixou um legado enorme. Tanto de títulos, quanto de futebol feio. Só que nos tempos em que ele dirigia o Timão, tinha Alex, Emerson Sheik, Paulinho, Guerrero. O time era muito bom individualmente. Mesmo visivelmente se preocupando mais em defender que atacar, o Corinthians do Tite ainda conseguia criar alguma coisa, o talento era muito grande.

Carrille substituiu Tite. Tinha um plantel bem pior nas mãos, mas tinha um ideia de jogo que parecia um pouco mais interessante, com um time levemente mais "solto" Mas as raízes ainda estavam entranhadas no defensivismo de Tite. Carrille foi campeão brasileiro.

Hoje, eu sentei no sofá para ver o Corinthians do Thiago Nunes jogar. O adversário era o Oeste. O Timão precisava ganhar e torcer para o São Paulo vencer o Guarani para seguir vivo no Paulistão. A missão foi cumprida. O São Paulo derrotou o Guarani e o Corinthians venceu o Oeste por 2x0. Vitória essa que veio após uma atuação terrível da equipe de Thiago Nunes. Chega a ser difícil estabelecer comentários mais elaborados sobre a forma de jogar da equipe. Parecia um bando de jogadores dentro de campo que não sabiam o que fazer. O primeiro gol saiu da maneira que o Timão mais se acostumou a gostar: na bola parada. Danilo Avelar apareceu na área do Oeste para cabecear e abrir  o placar aos 47 da primeira etapa. Se não me falha a memória, a primeira finalização a gol do Corinthians. Isso mesmo que você leu, a primeira conclusão a gol do Corinthians aconteceu nos acréscimos da primeira etapa.

No segundo tempo, a equipe de Thiago Nunes melhorou em alguma coisa (piorar seria quase impossível!). Mostrando-se limitado, mas valente, o Oeste tentava a reação para evitar o seu rebaixamento no Paulistão. Tentou, tentou, chegou muito perto, mas nos acréscimos, Éderson chutou de fora da área para ampliar e selar, mesmo com um futebol muito pobre, a vitória corintiana.

Resta agora saber o que será mais forte: a vontade de Thiago Nunes em mudar um estilo de jogo de um clube acostumado a vencer sem jogar bonito ou um esquema de jogo aprofundado no clube há anos, que abre mão de atacar para defender e tenta achar uma bolinha perdida para fazer um golzinho e conseguir a vitória. Sendo mais direto, o Corinthians "que joga pelo 1x0".