quinta-feira, junho 26, 2014

JOGO 47: SOB A VERSATILIDADE DE WILMOTS, BÉLGICA TERMINA PRIMEIRA FASE 100%

Por Danilo Silveira



Treinar o time de maneira que o possibilite apresentar-se de forma organizada dentro de campo, com uma proposta bem definida. Dar a um grupo de onze jogadores um padrão tático, isto é, organiza-los dentro de campo e estabelecer funções para cada um que façam a equipe ter uma identidade, mostrar ao público o que a equipe pretende dentro das quatro linhas. Ter opções no banco de reservas para fazer substituições que proporcionem melhoras ao time ou a manutenção de um bom rendimento. Mexer na estratégia previamente estabelecida quando esta não mais estiver ajudando na obtenção do sucesso.

O parágrafo acima narra o que para mim são as funções de um treinador de futebol. Veja como a palavra vitória em momento nenhum foi citada, pois ela não é algo que esteja necessariamente atrelado ao bom desempenho de um treinador. O futebol é um jogo onde muitas vezes quem joga melhor não vence e quem joga mal consegue a vitória baseado na sorte. Fatores esses que não devem atrapalhar no julgamento do trabalho do treinador, que deve ser baseado nos quesitos citados no primeiro parágrafo.

E considerando esses quesitos, Marc Wilmots, treinador da Bélgica, tem se mostrado excelente. Os nove pontos adquiridos na primeira fase (cinco a mais que a Argélia, segunda colocada do grupo) podem sugerir que a equipe não encontrou dificuldades. No entanto, essa sugestão pode nos levar a um equívoco. A Bélgica sofreu muito nos três primeiros jogos da Copa do Mundo, mas sob a maestria do seu comandante, o time conseguiu superar todos os obstáculos que lhe foram impostos.

Até aqui, Wilmots não chegou nem perto de repetir a sua escalação de um jogo para outro. Fato esse que não se dá por contusão ou necessariamente falta de rendimento dos jogadores, mas sim por propiciar ao time diferentes maneiras de atuar contra diferentes adversários. Contra a Coreia, a Bélgica encontrou pela frente um time que gosta de explorar a posse de bola com passes rápidos e subidas em velocidade ao ataque.

O antídoto belga foi um meio-campo com três jogadores que ajudaram na marcação e ao mesmo tempo na retenção da posse de bola: Fellaini, Dembele e Defour. Os dois laterais, Vertonghen e Vaner Borre mostraram-se fortes fisicamente para ajudar na contenção das investidas coreanas pelas pontas e capazes ainda de subir à parte ofensiva de maneira constante. Com isso, os 45 minutos iniciais em Itaquera foram de um jogo muito corrido, com as duas equipes buscando o ataque. A melhor chance foi para o lado belga, com Mertens, que não foi feliz em sua finalização, dentro da grande área coreana. Já os asiáticos assustaram em chute de fora da área, executado por Sung-Yong Ki e defendido pelo bom goleiro Courtois. No lance seguinte, Heung-Min Son dividiu bola aérea com Dembele e Lombaerts e quando a bola rumava para o gol, Defour apareceu para espantar o perigo.

Se dessa vez apareceu para salvar, aos 43 minutos Defour apareceria como vilão: vilão para a equipe belga, vilão para os adeptos do Fair-Play. O camisa 16 deu um pisão em Shin-Wook Kim e acabou recebendo o cartão vermelho, deixando sua equipe mais de um tempo com um jogador a menos dentro de campo.

Se o jogo já se apresentava difícil para a Bélgica, imagina agora? Foi aí que mais uma vez entrou Marc Wilmots. Na estreia, ele fez substituições que melhoraram o time e culminaram na vitória de virada sobre a Argélia. No segundo jogo, depois de ver seu time superior na primeira etapa, conseguiu arrumar a equipe de maneira a conter uma pressão russa na segunda etapa e ainda lançou a campo Origi, que seria o autor do gol da vitória. O que faria Wilmots dessa vez?

No fim da primeira etapa e começo da segunda etapa, o treinador não fez nenhuma mudança entre jogadores na equipe. A Bélgica voltou do intervalo mais recuada, porém conseguindo conter uma possível pressão mais incisiva da equipe coreana. Aos 14 minutos, Wilmots mexeu duplamente: Origi e Chadli entravam nas vagas de Mertens e Januzaj. Repare que não se trataram de substituições que expressam defensivismo exacerbado, fato que costuma acontecer quando uma equipe perde um jogador de meio-campo. Podemos dizer que Chadli entrou um pouco mais recuado que Januzaj.

Com as alterações, Mirallas passou a jogar mais nas pontas e Origi centralizado. O fato é que as trocas mostraram mais uma vez que Wilmots sabe exatamente o que tem em mãos. Defensivamente, a Bélgica conseguiu conter as investidas coreanas e na parte ofensiva ganhou um contra-ataque qualificado. O duelo tático ficou muito interessante. A Coreia quase abriu o placar em um cruzamento de Heung-Min Son, que virou chute e tocou o travessão de Courtois.

Aos 33 minutos, veio portanto o gol que coroou mais uma boa atuação de Wilmots no banco de reservas. Origi (que ele havia lançado no jogo 19 minutos antes) chutou, Seung-Gyu Kim rebateu e Vertonghen apareceu para estufar as redes. O fato que realmente há de se lamentar nesse lance é que na hora do chute de Origi, Vertonghen encontrava-se centímetros à frente do último jogador de linha da Coreia, caracterizando impedimento. Impedimento muito difícil para o olho humano identificar. Será que em 2018 já teremos o chip para lances desse tipo?

O gol, mesmo que ilegal, premiou uma equipe que é muito legal de se ver jogar. As alternativas táticas proporcionadas pelo treinador ao longo de 270 minutos de futebol até aqui, tornam o time dinâmico, versátil, surpreendente. Agora, a missão da Bélgica de Wilmots é derrotar os Estados Unidos para chegar às quartas de final. O duelo acontece dia primeiro de julho, em Salvador.

Aos coreanos restam voltar para casa com duas derrotas e um empate. Por falar nisso, as três seleções asiáticas que vieram ao Brasil foram eliminadas na primeira fase sem conseguir sequer uma vitória. Japão, Irã e Coreia somam seis derrotas e três empates.

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