terça-feira, julho 15, 2014

RECORDAR É VIVER: BRASIL 1 X 0 EUA - 04/07/1994

Por Danilo Silveira



Em tempo de Copa, vendo a Seleção Brasileira apresentando um futebol tão ruim, resolvi recorrer ao bom e velho Youtube para tentar assistir algo que a seleção do nosso país já havia feito de melhor. Foi então que escolhi um duelo da Copa de 1994. O jogo em que o Brasil derrotou os EUA por 1 x 0, com gol de Bebeto. Se hoje a Alemanha veio em nossa casa e nos ganhou por 7 x 1, há 20 anos fomos aos EUA para eliminarmos os donos da casa nas oitavas de final, com uma boa atuação coletiva.

Confesso que de tão mal que ouço algumas pessoas falarem sobre a seleção de 94, acabei me surpreendendo de forma positiva com que vi. Um time muito mais arrumado, muito mais organizado e consciente do que eu mesmo imaginava. Parece absurdo constatar que Carlos Alberto Parreira, que dirigia o time naquela ocasião, é o mesmo cidadão que teve papel de coordenador técnico em 2014. Parece que andou para trás em 20 anos.

Há duas décadas, contra os anfitriões, a seleção do nosso país não teve como prática fazer ligações diretas da defesa para o ataque. Por sinal, cabe destacar aqui uma atuação muito boa da dupla de zaga. Márcio Santos e Aldair foram praticamente perfeitos e os EUA criaram muito pouca coisa na parte ofensiva. A melhor oportunidade americana ocorreu aos 11 minutos de jogo, em chute de Dooley, que passou perto da trave direita de Taffarel.

Se a defesa se portou bem, a dupla e volantes foi excepcional. Mauro Silva e Dunga tiveram atuações maiúsculas, principalmente Dunga, o melhor jogador em campo, sendo um gigante na marcação e aparecendo no ataque com bastante qualidade. Saiu dos pés dele o ótimo cruzamento para Bebeto emendar um voleio e quase abrir marcador ainda na primeira etapa.

A dupla de laterais também fez um bom jogo, mas carregou uma grande mancha naquela partida. Nos minutos finais da primeira etapa, Leonardo perdeu a cabeça e agrediu de forma grosseira, desleal e covarde o jogador Tab Ramos. Uma cotovelada no rosto rendeu muito mais que o cartão vermelho para Leonardo em um jogo de futebol, mas fraturas no crânio e no maxilar do norte-americano.


Queria deixar aqui registrado que no vídeo em que assisti, o narrador é Luiz Carlos Júnior, esse mesmo que narra jogos na "sportv" hoje em dia. Instantes depois em que Ramos sofre a cotovelada, ele proferiu as seguintes palavras: "O jogador americano também valoriza, fica na maca. Também não foi isso tudo não." Parece mais do que infeliz tão declaração. Talvez nem o próprio Luiz Carlos Júnior lembre do que disse há duas décadas.

Voltando ao jogo, cabe destacar que Parreira conseguiu minimizar os efeitos de ter um homem a menos sem mexer peças em sua equipe. Mazinho foi deslocado do meio para a esquerda e conseguiu cumprir muito bem a função por ali. Mais que isso: o time do Brasil não sentiu drasticamente o fato de ter um a menos e voltou para o segundo tempo atuando melhor que o adversário.

Por várias vezes as estatísticas do jogo eram exibidas na tela. Em todas que me recordo o Brasil foi apontado como o time que detinha mais posse de bola. Um dos grandes aliados do Brasil foi a bola. O time não a rifava, como fizeram os comandados de Felipão em 2014. Quando não conseguia evoluir para o campo ofensivo com a bola, o time do Parreira segurava a bola, esperando a melhor saída. O time jogava mais pelo chão que pelo alto. Características essas que já sugerem uma equipe bem mais interessante que a atual Seleção Brasileira.

Cabe ainda destacar um outro dado. As 38 minutos da segunda etapa o Brasil tinha feito apenas nove faltas no jogo. Um número bem interessante. Dá até arrepio imaginar que em 2014, contra a Colômbia, por exemplo, o Brasil terminou o jogo tendo cometido 31 faltas. Não dá para tirar conclusões profundas tendo assistido um jogo, mas me parece que em 20 anos o Brasil regrediu quando o assunto é seleção. Afirmo que na Copa de 2014 a Seleção Brasileira não fez um jogo com a qualidade que fez contra os EUA em 1994.

Não foi falado ainda sobre o ataque. Romário e Bebeto formaram naquela Copa uma dupla que até hoje é muito comentada em mesas de bares e estúdios jornalísticos. O que posso dizer da atuação dos dois é que eles se movimentaram bastante, saindo da área com frequência para buscar o jogo. Romário não parecia nem um pouco aquele atacante fixo dentro da área que foi em seus últimos anos de carreira pelo Rio de Janeiro. Nos minutos finais da primeira etapa, quase anotou um golaço, quando driblou Lalas e bateu de fora da área, mas o chute beijou a trave esquerda de Meola.

E foi uma das arrancadas do Baixinho que decidiu o jogo. Mas antes de falar do gol, quero destacar um fato curioso. Cafú, que durante anos foi o lateral direito da Seleção Brasileira, era um dos mais novos daquele grupo, com apenas 24 anos. Aos 23 minutos da segunda etapa, ele entrou no jogo na vaga de Zinho. Só que Cafú não adentrou o gramado para atuar como no lado direito, e sim no esquerdo, para auxiliar Mazinho.


Cinco minutos depois de entrar em campo, ele roubou bola pela esquerda e a redonda chegou até Romário, na altura do meio-campo. O baixinho arrancou, superou a marcação, serviu Bebeto na ponta direita, que com uma belíssima finalização fez o único gol do jogo. Foi aí que se deu uma das cenas mais marcantes da seleção naquela Copa. Bebeto dá a volta por trás do gol americano e fala para Romário "Eu te amo." Era o gol que colocaria o Brasil nas quartas de final, abrindo caminho para o tetra.

FICHA TÉCNICA

BRASIL 1 x 0 EUA
Local: Stanford Stadium, em Palo Alto
Data/Hota: 4/7/94, às 12h35
Árbitro: Joel Quiniou (França)
Público: 84,147
Cartões vermelhos: Leonardo, 41'/1ºT (BRA); Clavijo, 42'/2ºT (EUA)
Gol: Bebeto 28'/2ºT (1-0)

BRASIL: Taffarel, Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho (Cafu); Bebeto e Romário. Técnico: Carlos Alberto Parreira

ESTADOS UNIDOS: Meola; Clavijo, Balboa, Lalas, Caligiuri; Tab Ramos (Wynalda), Dooley, Hugo Perez (Wegerle), Sorber; Cobi Jones e Stewart. Técnico: Bora Milutinović.

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