quinta-feira, outubro 30, 2014

QUANDO A SEDE POR VITÓRIAS SE SOBREPÕE A BELEZA DO JOGO PROPOSTO.

Por Danilo Silveira



Marca, Combate, Marca, Combate...quando tem a posse de bola a inspiração é muita pouca e sucumbe à correria. Corre, corre, corre, falta lucidez, falta toque de bola qualificado. Jogando em casa, três volantes são escalados. Futebol feio, pragmático, pouco admirável. Agora, possui uma vontade incrível, um empenho impressionante, o tal “sangue nos olhos” parece imperar nos onze que tem por incumbência vencer o oponente dentro das quatro linhas.

Os noventa minutos que separam o apito inicial e o apito final são de muito mais transpiração que inspiração. Se para alguns, o objetivo é fazer com que a inspiração ofensiva vença a marcação adversária, para Vanderlei Luxemburgo o objetivo é inverso: é fazer com que a sua marcação impeça que a inspiração adversária evolua dentro do gramado. O tal do “joga e deixa jogar” é substituído pelo “não deixo jogar e jogo na base da correria, não da inspiração”. Vence e convence a massa rubro-negra, carente de bom futebol apresentado pelos seus times recentes, que esse é o melhor método para se dirigir uma equipe de futebol.

Por lógica, deveria o Flamengo esbarrar, parar, nos melhores times do Brasil. Mas a lógica do futebol se diferencia da lógica das demais áreas da vida. E a lógica rubro-negra venceu Cruzeiro, Atlético/MG (duas vezes) e Internacional. O rubro-negro fanático, apaixonado, louco pelo seu time do coração, senta à frente da televisão ou nas cadeiras do Novo Maracanã, não para ver o time jogar bem, apresentar-se de forma brilhante; ele senta para ver o time ganhar, e mais nada. Se perder, sai reclamando da qualidade do time, se ganhar, sai comemorando, sem exercer qualquer comentário em relação à qualidade do futebol apresentado.

E a magia rubro-negra, espalhada por cada metro quadrado do Maracanã, é capaz de tornar o improvável, real. Um contra-ataque, onde há dois rubro-negros contra cinco alvinegros, transforma-se em penalidade máxima. Gabriel driblou dois adversários e foi derrubado pelo terceiro. Chicão estufou as redes: 2 x 0! E lá vai o Flamengo para Minas Gerais, carente por bom futebol, sedento pelo título. Carente de um treinador que preza pela beleza do futebol apresentado, mas que tem seu nome gritado pela massa, que pouco tem se importado com qualidade do futebol apresentado, se apegando ao resultado o qual o jogo acaba.

Quando se fala em futebol, em torcida, fica muito difícil separar a razão da emoção. E talvez seja mesmo melhor para o torcedor rubro-negro, deixar se levar pela emoção. Porque pela razão, fica muito difícil concordar com Vanderlei Luxemburgo à beira do campo, vestindo vermelho e preto. Fica difícil concordar que o Flamengo entre para um jogo no Maracanã com três volantes e termine esse mesmo jogo com quatro volantes, atuando igual um time pequeno, enquanto o adversário possui somente um volante entre os onze que em campo estão.

Talvez seja difícil analisar de forma fria quando se está no meio de uma competição. A sede pela vitória tem muitas vezes como resultado a não preocupação com a qualidade do jogo proposto. Isso eu já estou mais do que acostumado a ver. Aliás, não precisamos remeter a histórias muito antigas. Basta ver o desempenho da Seleção Brasileira na última Copa do Mundo. Os rostos pintados de verde e amarelo, as bandeiras tremulando país afora e o sentimento dito nacionalista, contrastavam com uma equipe bisonha dentro de campo, abaixo da linha do aceitável. O Mineirão veio a ser o placo que devolveu aos brasileiros a consciência de que aquele time estava muito, mas muito aquém do que se imaginava: SETE A UM! E que o trabalho estava sendo desenvolvido de uma maneira equivocada, contribuindo e compactuando para o retrocesso do futebol brasileiro.


O mesmo Mineirão onde o Flamengo enfrentará, na próxima quarta-feira, o Atlético/MG, buscando garantir vaga na final da Copa do Brasil.

Um comentário:

  1. Terminada a partida em que o Atlético sapecou 4a1 no Flamengo, escancarando fragilidades numa equipe mal treinada (ou pior: mal orientada), as últimas seis linhas no texto tiveram ares proféticos. Bendito Mineirão!

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