sábado, julho 07, 2018

JOGO 58: MELHOR COLETIVAMENTE, BÉLGICA MANDA O BRASIL PARA CASA E CHEGA À SEMIFINAL

Por Danilo Dias

Era o encontro de duas das seleções com maior talento em seus plantéis na Copa do Mundo de 2018. De uma lado, o Brasil de Neymar, Coutinho, Marcelo e companhia. Do outro, a Bélgica, de Hazard, De Bruyne e Lukaku. Ingredientes não faltavam par termos um grande jogo.

E no final das contas, Roberto Martínez mostrou aquilo que já vinha mostrando ao longo da Copa toda: que sabe usar o talento individual para montar um grande time de futebol. Coisa que Tite passou longe de fazer ao longo do Mundial.

Escanteio cobrado na área, a bola bateu no braço de Fernandinho e entrou nas redes do goleiro Alisson: gol contra e 1x0 para a Bélgica Lukaku puxa um contra-ataque sensacional, dá um belo drible em Fernandinho, serve De Bruyne, que chuta de fora da área, no canto direito, fazendo 2x0 para a Bélgica.

Os lances do parágrafo anterior, ocorreram respectivamente nos minutos 12 e 30 da primeira etapa. Era a primeira vez que o Brasil ficava atrás do marcador na Copa do Mundo. E foi aí que a equipe montada por Tite mostrou qual era o seu maior defeito: a falta de coletividade para criar jogadas ofensivas. Neymar, Gabriel Jesus, William e Coutinho formavam o quarteto de ataque e até tentavam produzir jogadas de gol, até conseguiam exercer determinada pressão sobre a Bélgica. No entanto, muito mais em jogadas individuais que propriamente em jogadas coletivas. Os quatro pouco conseguiam dialogar, pouco conseguiam fazer coletivamente para tentar envolver o alto, bom e sólido sistema defensivo belga.

Era a hora de Tite atuar. E para volta do intervalo, o treinador lançou Roberto Firmino na vaga de William. Dois jogadores de características um pouco diferentes, mas no fundo, o treinador brasileiro estava trocando uma peça ofensiva por outra. Talvez seria de maior ousadia tirar um jogador mais de defesa, devido às circunstâncias do jogo.

A Bélgica fez na segunda etapa, uma das coisas mais arriscadas de se fazer quando se joga diante de uma equipe que possui jogadores de tanta qualidade quanto o Brasil: recuar excessivamente. O time que trabalhava bem a bola no ataque, que sabia contra-atacar e que causava muito perigo ao Brasil na primeira etapa, foi cada vez mais sumindo da parte ofensiva. Uma reviravolta, que parecia distante na primeira etapa, devido ao desenho tático do jogo e superioridade belga, se tornou algo bem possível.

O Brasil rondava a área, tentava por um lado, pelo outro, mas faltava a coletividade, faltava o toque de bola, faltava um jogador para cadenciar a partida. Talvez fosse Paulo Henrique Ganso, talvez fosse Oscar, mas Tite deixou esses fora da lista. Preferiu Taison, Fred, entre outros, que sequer foram usados. E na hora de tirar um homem do sistema defensivo para colocar um atacante, Tite tirou Gabriel Jesus e colocou Douglas Costa, quando o relógio apontava 12 minutos. Ainda que Douglas Costa tenha entrado bem na partida e produzido mais que Gabriel Jesus, a substituição não se justifica. Perdendo por 2x0, na segunda etapa de um jogo eliminatório, tirar um homem de defesa para colocar uma peça ofensiva é quase o mínimo que o treinador da Seleção Brasileira deveria ter feito.

Ainda com substituições mal executadas, ainda que jogando mal, ainda que perdendo por 2x0, ainda que o relógio andasse e o placar não fosse alterado, o Brasil estava vivo ainda. É duro vencer o Brasil,  o time parece estar sempre perto de ressurgir. Tite fez última mexida: Renato Augusto na vaga de Paulinho, aos 27 do segundo tempo. Ainda que possa se verificar algum cunho ofensivo na substituição, não faz nenhum sentido manter Fágner (peça quase nula na segunda etapa) em campo e dois zagueiros (ainda que a dupla de zaga tenha feito uma ótima partida).

O Brasil esbarrava nas substituições equivocadas do seu treinador, nas individualidade infrutífera de seus jogadores, e para piorar, na inspirada noite de Courtois em Kazan. O goleiro fez defesas espetaculares durante a partida. Na mais incrível delas, Neymar chutou caprichosamente, quando o placar marcava 2x1 para a Bélgica, no ângulo esquerdo, e o goleiro voou para evitar o empate.

Para não sairmos muito da ordem cronológica das coisas, antes da defesa
de Courtois nesse chute do Neymar, devemos falar do gol de Renato Augusto. O camisa 8 se enfiou por entre a defesa belga e aproveitou um lançamento fenomenal de Coutinho, para cabecear e vencer a muralha chamada Courtois. Era o gol da esperança. E o próprio Renato Augusto teve a chance mais clara para empatar o jogo, ao receber cara a cara com o goleiro e chutar caprichosamente no canto direito. A impressão era que a bola entraria, era o gol de empate do Brasil, mas não! Fica a impressão que Courtois, o sistema defensivo, Roberto Martínez e a população da Bélgica, em conjunto, reuniram forças para a bola desviar a trajetória e sair. Simplesmente incrível!

No final das contas, venceu o time mais bem arrumado, que tem uma proposta bem definida e sabe seguí-la dentro das 4 linhas. Bélgica x França tem tudo para ser um dos melhores jogos da Copa. Não existe favorito. Se a Bélgica quer concretizar o sonho de chegar em uma final de Copa, precisar repensar a atitude durante a segunda etapa contra o Brasil. Ainda que exista uma solidez defensiva, é muito arriscado jogar tão recuado contra times talentosos. Ressaltando ainda que a França é muito mais organizada que o Brasil ofensivamente.

O bando comandado por Felipão em 2014, que alguns chamavam de time, deram lugar em 2018 a um time de futebol, comandado por Tite. Um time qualificado, organizado defensivamente, difícil de ser vazado, e duro de ser batido. A Seleção Brasileira de 2018 é a cara do Tite. Defende com qualidade, sofre muito para criar no ataque e acaba em algum momento achando um gol. Muitos definem isso como "o time feito para ganhar por 1x0". Talvez "achar" um gol quando se tem um time com Neymar, Coutinho, Marcelo, Gabriel Jesus, entre outros, não seja tarefa tão complexa para se conseguir em 90 minutos, mas convenhamos, é muito pouco para uma Seleção Brasileira de Futebol.

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