quarta-feira, junho 25, 2014

JOGO 43: QUANDO O TEMPO E O DESTINO SÃO OS MELHORES REMÉDIOS

Por Danilo Silveira

Há um simples ditado que diz: "o mundo dá voltas". Essa frase aparentemente simples, de quatro palavras, pode significar várias coisas, dependendo muito do ponto de visto e do contexto em que é aplicada. Uma coisa é fato: para a Seleção Suíça de futebol, a frase pode ser entendida como evolução.

Para falar do duelo desta quarta-feira, em que os suíços venceram Honduras por 3 x 0 é necessário voltar no tempo e desembarcar no ano de 2010, em solos sul-africanos. Na primeira Copa do mundo disputada naquele continente, a Suíça, comandada pelo alemão Ottmar Hitzfeld (que continua no cargo até hoje) caiu em um grupo com Espanha, Chile e Honduras. E naquela Copa, a seleção europeia apresentou um futebol extremamente defensivo, com pouquíssima inspiração no ataque. Depois de vencer a Espanha na estreia (em duelo onde os espanhóis foram infinitamente superiores) e perder para o Chile no segundo jogo, uma vitória por dois gols de diferença em cima de Honduras colocaria os suíços nas oitavas de final. No entanto, aquele jogo seria marcado por um empate em 0 x 0, que abriu caminho para Espanha e Chile avançarem, equipes que naquela ocasião apresentavam um futebol muito mais agradável de se ver do que a Suíça.

Quatro anos se passaram e a Suíça chegou ao Brasil bem diferente. Apesar de ser comandada pelo mesmo treinador, a filosofia mudou bastante. O defensivismo deu lugar a um time dinâmico, equilibrado, que joga um futebol muito mais legal de se ver. Depois da vitória na estreia sobre o Equador e a derrota para a França na segunda rodada, lá estava de novo Honduras no caminho suíço. Se você acha que a coincidência termina por aí, se engana. O duelo na África do Sul foi disputado no dia 25-junho-2010. E pasmem: quis o destino que Suíça e Honduras entrassem na Arena da Amazônia para duelar dia 25-junho-2014, exatamente quatro anos mais tarde.

Nove jogadores que atuaram no duelo de quatro anos atrás jogaram a partida dessa quarta-feira (quatro suíços, cinco hondurenhos). Partida essa que teve um desenrolar bem diferente do que naquela ocasião. O gol que não havia saído durante os 90 minutos, dessa vez demorou apenas cinco: Shaqiri finalizou de longe, de maneira brilhante, a bola tocou o travessão e venceu o goleiro Valladares. Cabe destacar que os dois jogadores citados nesse lance fazem parte da lista dos nove que jogaram há quatro anos.

E o gol suíço logo no início foi fundamental, pois Honduras se mostrou um adversário muito complicado. Passou o primeiro tempo apostando na posse de bola e na paciência para vencer o sistema defensivo suíço. No entanto, tal estratégia não culminou na criação de muitas chances de gol. A Suíça, por sua vez, mais objetiva, conseguiu ampliar o placar novamente através de Shaqiri, após assistência de Drmic. Se tirarmos uma foto durante a execução da jogada acima descrita, provavelmente Inler não aparecerá. Apesar disso, o camisa oito foi de fundamental importância no gol. Foi dos pés dele que nasceu o passe (do campo defensivo para o ofensivo) que colocou Drmic em ótimas condições. Aliás, muitos elogios merece Inler, que vem se destacando nesse meio-campo suíço.

Antes do término do primeiro tempo, o técnico de Honduras, Luis Suárez, precisou mexer na equipe: Costly, autor do único gol da seleção na Copa, saiu machucado para a entrada de Jerry Palacios. E na volta do intervalo, o treinador mexeu mais uma vez: saiu Espinoza para a entrada de Marin Chávez. O nome de Espinoza não foi citado aqui durante a narrativa da primeira etapa, no entanto, ele teve um papel importante no meio-campo hondurenho, fazendo a bola rodar. Sua saída me pareceu um equívoco do treinador.

Mas equívoco mesmo era desse que vos escreve. A substituição deu certo e a melhora de Honduras no jogo passou pela excelente entrada de Chávez. Pela ponta esquerda de ataque ele infernizou a vida daqueles suíços que tinham a incumbência de marcar naquele setor do campo. 

E logo aos três minutos, Bengston teve muito perto de diminuir o marcador: por muito pouco seu peixinho não alcançou a bola cruzada da esquerda. Só que aos seis ele teria nova oportunidade de marcar: recebeu belo passe de Juan García, driblou Benaglio e chutou. A bola sair dos pés dele e adentar as redes suíças era um fato que aconteceria se Ricardo Rodriguez não aparecesse no meio do caminho para interceptar o lance e salvar a pátria suíça.

Aos 16 minutos foi a vez de Jerry Palacios ter a oportunidade de marcar, só que ele acabou sofrendo pênalti de Djourou no momento em que ficaria na cara de Benaglio em boas condições de finalizar. Lamentavelmente o árbitro argentino Nestor Pitana negou a infração. Ruim para Honduras, péssimo para o espetáculo. Por sinal, de quem é que foi a ideia de colocar um argentino para apitar esse jogo, do qual tinham boas chances de sair o adversário dos hermanos nas oitavas de final? Não estou aqui sugerindo nenhum tipo de favorecimento para A ou B, apenas me perguntando se tal fato não poderia ser evitado.

Quando Honduras parecia mais perto do gol, a dupla de ataque suíça funcionou novamente. Drmic deu belo drible em Victor Bernárdez e deixou Shaqiri em belas condições para anotar o seu terceiro gol na partida, o quarto na competição, igualando-se a Messi e Neymar na artilharia. 

Honduras continuou em busca do seu gol, que já era mais do que merecido. Marvin Chávez fez bela jogada pela esquerda, chapelou Behrami e cruzou na medida para Bengston cabecear e dessa vez ser parado pelo goleiro Benaglio. 

A vitória suíça por 3 x 0 combinada com o empate em zero a zero entre França e Equador, deram aos comandados de Ottmar Hitzfeld o direito de seguir na competição. Com o segundo lugar do grupo, a Suíça enfrenta agora a poderosa Argentina, com Messi em bela fase. 

Se a Suíça vai conseguir eliminar a Argentina, só tempo vai nos dizer, mas a classificação em cima de Honduras deve ter tido um sabor pra lá de especial para aqueles que estiveram presentes no duelo na África do Sul, quatro anos atrás. 

O tempo é algo que não volta atrás nunca. No entanto, muitas vezes temos no futuro a chance de fazer diferente algo que tenha dado errado em algum lugar do passado. E isso vai muito além de relacionamentos interpessoais, podendo acontecer em diversos ramos da sociedade. Inclusive no futebol, um esporte que ultrapassa os limites das quatro linhas, sem necessariamente ser uma bola fora. Ottmar Hitzfeld, Benaglio, Inler, Lichtsteiner e Shaqiri são cinco pessoas que podem comprovar tal tese, com uma história que começou na África do Sul e só terminou no Brasil, quatro anos mais tarde.

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