sábado, julho 05, 2014

JOGO 60: SEGUE VIVO O SONHO DO INEDITISMO LARANJA

Por Danilo Silveira



Tim Krul adentrava o gramado da Fonte Nova quando o relógio já havia ultrapassado a marca dos 120 minutos. Mais precisamente nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação. O objetivo era simples e claro. Van Gaal queria que ele se tornasse o grande herói das cobranças de pênaltis, impedindo que as bolas chutadas pela Costa Rica entrassem na casa holandesa. Por que Krul teria sido o escolhido para essa função na vaga de Cillessen? Cena tão inusitada que chego a dizer que nunca havia presenciado a troca do goleiro titular pelo reserva instantes antes da disputa de pênaltis. Estava nas mãos de um jogador que não havia participado de um minuto sequer dessa Copa, a missão de manter vivo o sonho holandês de conquistar o inédito título de uma Copa do Mundo.

E Krul foi milimetricamente perfeito. Acertou o canto nas cinco cobranças costarriquenhas e em duas alcançou a bola e espalmou para longe o sonho da Costa Rica de continuar no meio de gigantes sem sucumbir. O que realmente motivou a entrada de Krul eu não sei. Desempenho técnico em cobranças de pênalti? Preparo psicológico? Supertição? Seja lá qual for, o fato é que ele saiu da Fonte Nova como o grande salvador da pátria holandesa.


Foi um verdadeiro xeque mate na Costa Rica que jogou 120 minutos como se estivesse em um tabuleiro de xadrez. Como se Jorge Luis Pinto fosse o enxadrista e os jogadores as peças. Cada um colocado em determinado local do campo de forma milimétrica e estrategicamente pensada. Três zagueiros e dois laterais compunham uma linha de cinco quando a Holanda tinha a bola e por quase nada a desfaziam. Bryan Ruiz, Bolaños, Tejeda e Borges formavam a segunda linha de marcação, quase sempre próxima ao círculo central, buscando impedir que a Holanda avançasse seu time até a intermediária. Campbell atuava isolado à frente, esperando uma jogada em velocidade ou que a posse de bola ficasse com sua equipe, para ter o auxílio de Bryan Ruiz pelo meio e Bolaños pela ponta esquerda na criação de jogadas de ataque.

Só que no xadrez, as peças têm igual valor para ambos os lados, isto é, os peões de um valem a mesma coisa que os peões do adversário, assim como as torres, o rei e por aí vai. No futebol não. Tinha a Holanda Arjen Robben, uma peça diferenciada, que é superior em termos de talento a qualquer outra do adversário. E ele parecia mais rápido que um cavalo trotando para cima de todos os adversários que por sua frente passavam. A torre costarriquenha formada à frente do goleiro balançava quando ele usava sua velocidade para tentar destruí-la. Era como se um só peão não fosse capaz de deter o habilidoso atacante holandês. O árbitro do Usbequistão, Ravsahn Irmatov começou então a distribuir cartões para aquelas peças que infringiam as regras do desporto. Foram quatro amarelos durante o duelo por infrações cometidas no camisa 11. E Díaz ainda contou com a conivência do árbitro, que deveria ter aplicado o segundo amarelo e lhe expulsado por conta de um carrinho em Robben, aos 45 do segundo tempo.

Assim como no xadrez, no futebol o raio de ação de cada peça pode variar de acordo com o desenrolar da partida. O volume de jogo holandês, fruto de uma boa escalação promovida por Louis Van Gaal fez o goleiro costarriquenho Keilor Navas ser por diversas vezes testado. E o camisa 1 teve uma tarde-noite inspirada na Bahia. Quando a Holanda conseguia superar o belo sistema de marcação adversário, lá estava ele para impedir o gol. Foi em chutes de Van Persie e Depay, foi na cabeçada de Vlaar, foi na cobrança de falta de Sneijder. Parecia impossível vencer o goleiro adversário.

Se o xadrez é um jogo onde a tática costuma prevalecer sobre a sorte, no futebol essa frase não pode ser dada como verdade. A sorte parece imprescindível e às vezes parece que algum fator que extrapola o plano teórico, tático e prático desse esporte surge como agente ativo no campo de jogo. Não bastasse a atuação fantástica de Navas, surgiu então outro obstáculo ao time laranja. A cobrança de falta de Sneijder explodiu na trave direita, o belo chute do mesmo Sneijder carimbou o travessão e quando Van Persie chutou para o gol sem goleiro, apareceu Tejeda para cortar para o alto, vendo a bola tocar o próprio travessão e não cruzar a linha final.

E como já virou ditado, essa é a Copa dos goleiros! Navas fechou o gol com a bola rolando, Krul pegou dois pênaltis! E no meio disso tudo Cillessen ia passar despercebido? Não! O holandês titular da posição impediu, aos 11 minutos da prorrogação, que o chute de Ureña encontrasse as redes. Tinha tudo para ser o xeque-mate costarriquenho em pleno tabuleiro baiano, mas o camisa 1 holandês apareceu como uma torre na linha um para impedir.

Como diversos tipos de fatores, como as bolas na trave e as belas intervenções dos goleiros, impediram que a partida tivesse algum gol anotado, a decisão ficou para as penalidades. E na Bahia, terra do Carnaval, Krul foi o Rei holandês. O grande herói que possibilitou que a Holanda caísse dentro da folia para comemorar o direito de continuar sonhando.

À Costa Rica um humilde muito obrigado! Obrigado por ter mostrado ao mundo que tradição não ganha jogo, que é possível vencer quando se tem menos talento que o adversário, mas que para isso não é necessário jogar retrancado. Obrigado por mostrar um padrão tático que falta a muita seleção com mais tradição e talento (não é mesmo, Felipão?). A Costa Rica se despede do Brasil de cabeça erguida e invicta.


Quarta-feira que vem teremos um encontro imperdível: a Holanda de Robben mede forças com a Argentina de Messi. Dois craques que se destacam em qualquer campo, em qualquer tabuleiro, contra todos os adversários, causando pânico a todas as peças que tem por incumbência diminuir os seus raios de atuação. Que São Paulo seja agraciado com um belo espetáculo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário