terça-feira, julho 08, 2014

JOGO 61: ALEMANHA ENSINOU O BRASIL A JOGAR FUTEBOL. SÓ QUE PRECISAMOS APRENDER MUITO MAIS.

Por Danilo Silveira



Rostos pintados, ruas enfeitadas, cornetas buzinando, uma população alvoroçada. Esse era o clima de festa que vivia o Brasil, onde o verde e o amarelo ditavam o tom. Tudo em busca de um sonho: ver a Seleção Brasileira de Futebol ganhar, dentro de seu próprio território, o hexacampeonato em Copas de Mundo.

O povo precisava desse título para esquecer um pouco as mazelas sociais, esquecer um pouco a podridão na política, a falta de recursos do país aplicados na saúde a na educação. Era o título da Copa do Mundo que serviria para "salvar a pátria". Na realidade em nada salvaria, pois continuaríamos a perder vidas por conta da violência existente em nosso país, continuaríamos a ver doentes sem leitos em hospitais, crianças sem professores, professores sem condições básicas para ministrar uma aula e por aí vai. Mas o título em uma competição esportiva maquiaria tudo isso, faria a população tratar de forma secundária que estamos em ano eleitoral. Claro que uso o termo "população" de uma maneira geral: há aqueles que não ligam para futebol e não estão nem aí para a Copa. Para esses, restava esperar a tão popular Copa do Mundo acabar para o país voltar à normalidade.

Só que não adianta esquecer os próprios problemas, fugir da busca por soluções para eles. Dilma Roussef, o Brasil continuaria enfrentando os mesmos problemas sociais, econômicos e políticos, ganhando ou não a Copa. Não se transforma um país dessa forma. A não ser que a senhora tenha um plano inovador para transformar doze estádios em milhares de hospitais e colégios!

Pois bem! Quis o Brasil esquecer os problemas e se voltar para a Copa. As manifestações que marcaram o país recentemente deram lugar ao verde, ao amarelo e ao sentimento do pseudo patriotismo. Isto é, um patriotismo direcionado única e exclusivamente para o futebol. Nunca vi o povo brasileiro sair pintado de verde a amarelo, com corneta na mão em dia de eleição.

Nessa brincadeira de maquiagem, a Seleção Brasileira também sofreu. Luiz Felipe Scolari não teve competência suficiente para montar um time de futebol. O Brasil parou, esperando o hexa, mas não tínhamos dentro das quatro linhas um time de futebol. Só que o brasileiro é sabido, esperto. Tinha que haver alguma forma de ganhar o hexa. Somos o país do jeitinho, não é mesmo? Logo na estreia o árbitro inventou um pênalti, preponderante para que conseguíssemos a vitória sobre a Croácia. Festa total!

Pouco depois vieram as oitivas-de-final e o Brasil superou o Chile nas penalidades, mesmo após uma atuação terrível. Portanto, faltavam apenas três jogos para o hexa. Quem poderia ser capaz de tirar o título? A Colômbia? É claro que não! Ganhamos por 2 x 1. Perdemos o Neymar, por contusão. Já se falava em recuperar o melhor jogador do time para jogar a final. Nem a semifinal tínhamos ganho ainda! Mas a ida à final era certa!

Foi aí que veio a Alemanha e colocou o Brasil em seu devido lugar. Mostrou aos 11 jogadores de Scolari qual o significado real de um time de futebol. Mostrou ao povo brasileiro como que se joga esse esporte. Muller, Khedira, Kross e companhia deram uma aula de futebol ao Brasil e no Brasil. Mostraram como faz uma marcação eficiente, como se mantém a posse de bola com qualidade, como se contra-ataca. Um gol atrás do outro, deixando os brasileiros perplexos, como se estivessem recebendo uma aula, mas sem conseguir entender nada do que se passava nela.

Muller deu início ao massacre, marcando seu quinto gol na Copa, abrindo caminho para a goleada alemã. Klose ampliou, anotando seu décimo sexto gol na história das Copas, passando Ronaldo e se tornando o maior artilheiro. Ainda tínhamos 22 minutos do primeiro tempo. Dava tempo para mais cinco gols alemães: um de Khedira, dois de Kross e dois de Schurrle. Um verdadeiro massacre! Oscar ainda descontou, mas nada que pudesse minimizar o vexame.

Talvez a derrota para o Chile nos pênaltis fosse melhor. Dava para jogar nossos problemas para baixo do tapete. Dar uma maquiada e seguir nosso caminho. Assim como fazemos com os problemas sociais do nosso país. Assim como fizemos com o Brasil para receber o mundo, tapando favela para o turista não achar o Brasil um país "feio". Maquiando nossa realidade. Só que o destino foi cruel com a gente. Estávamos ali, perplexos, assistindo o Brasil ser massacrado pela Alemanha. Inacreditáveis 7 x 1. Não havia mais jeitinho, não havia mais como esconder nossa fragilidade no futebol, nossa crise tática. Estava lá a seleção do Felipão. O grande motivador, o grande mestre que nos traria o hexa estava desprotegido. Não houve maquiagem alguma capaz de esconder suas falhas. A Alemanha deixava explícito nossos problemas, nossas fraquezas. Tínhamos jogadores bons, um potencial incrível, mas mal explorado, pois escolhemos a pessoa errada para comandar. Talvez assim funcione o Brasil na prática. Um país com grande potencial, mas na mão de incapazes, politicamente falando.

David Luiz pediu desculpas para a população. Chorava copiosamente como uma mãe que perdeu o filho por falta de atendimento em hospital público. Chorava como uma criança que não tem o que comer. Chorava porque havia perdido um jogo de futebol. Mas o sentimento de humilhação era tão forte como o da mãe e da criança acima citados. O Brasil chora porque parou para uma Copa, parou para ter no futebol a alegria que não tem com o dia-a-dia. O Brasil chora porque ficou sem a Copa e continuou sem hospital, sem colégio, sem seriedade.


O Mineirão que viu o Brasil passar pelo Chile e ser eliminado pela Alemanha é o mesmo que viu o Atlético-MG do Cuca ser campeão Mineiro e da Libertadores em 2013. É ele a figura ideal para fazer a Seleção Brasileira ressurgir das cinzas deixadas por Scolari e Parreira. Talvez a CBF prefira algum outro nome, ou quem sabe até manter a comissão técnica que perdeu de 7 x 1 para a Alemanha. Há políticos que trabalham para piorar o país e perduram no poder, porque no futebol seria diferente?

Ainda com tudo descrito, o brasileiro tem a velha mania de não assumir os erros, de achar que sempre há de ter alguma coisa que possa eximir a própria culpa do fracasso. Talvez essa figura seja Neymar. Alguns podem dizer que com o Neymar seria diferente. Que se não fosse a ausência do nosso maior craque estaríamos com vaga assegurada na final. Talvez alguns ainda achem que Zuniga, o colombiano que fez a falta que contundiu nosso camisa 10 seja o principal vilão. Eu sei, é difícil assumir culpa, é difícil olhar para o próprio umbigo e dizer: a seleção que eu tanto defendi é fraca, é péssima e foi eliminada por incapacidade técnica e tática. É difícil não ser vaidoso! É difícil assumir!

Segue viva a Alemanha e espera Holanda ou Argentina na grande final. As três seleções que sobraram no Mundial são muito melhores que o Brasil de Scolari. Muito mais bem preparadas, tanto tatica, quanto psicologicamente. Todas têm em seus comandos um treinador melhor que o Brasil. Portanto, para a beleza do futebol, para o bem do futebol, a derrota do Brasil para a Alemanha foi sensacional. Melhor ainda porque foi da forma que foi: um histórico 7 x 1. Irrepreensível! Unânime!

Para os patriotas que se irritam com aqueles que torcem contra a Seleção Brasileira de Futebol, lembro que dia 5 de outubro teremos eleições para Presidência da República. Não há momento mais apropriado para se pintar de verde e amarelo, buzinar cornetas e pedir para o Brasil "mostrar a tua força".

Ou mudamos de forma radical ou continuaremos dando vexame em diversos âmbitos: Na saúde sem hospitais, na educação sem colégios, na política sem políticos e no futebol sem um time.

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