quinta-feira, março 12, 2015

O FUTEBOL PRECISAVA DA CLASSIFICAÇÃO DO PSG: E ELA VEIO DAS PROFUNDEZAS DO IMPROVÁVEL!

Por Danilo Silveira


Uma novela escrita pelo dramaturgo mais competente de todos os tempos. Um filme dirigido pelo melhor cineasta de Hollywood. Assim foi o confronto entre Chelsea e PSG nesse 11 de março, que se faz inesquecível e eternizado na história da Liga dos Campeões da Europa. Como um sonho para Paris, um pesadelo para Londres. O dia em que a zaga brasileira do PSG fez ruir a muralha defensiva azul e jogou para longe o sonho do bi do Chelsea e do tri de José Mourinho.

O 0 x 0 classificava o time azul. A veracidade da sentença anterior torna superior ao óbvio que uma classificação do time de Paris passava necessariamente por balançar as redes de Courtoius: um monstro belga, denominado goleiro, que defende as traves do Chelsea. Se tal empreitada já, por si só, detém consigo uma dose considerável de dificuldade, imagine só como ela ficou após os 30 minutos do primeiro tempo. Foi exatamente com meia hora de jogo que Ibrahimovic deu carrinho com força excessiva em Oscar e recebeu de presente do senhor Bjorn Kuipers o cartão pintado da cor vermelha. Isso significava que por mais pelo menos uma hora, o PSG teria um homem a menos em campo. Só que mal sabiam os presentes no Stamford Bridge que o tempo seria bem maior.


E o PSG poderia ter perdido mais um jogador na primeira etapa, mas a cotovelada de David Luiz em Diego Costa passou impune. Um dos raros momentos de descontrole do PSG na partida. A força mental do time francês veio a ser o grande aliado ao longo da partida.

Um homem a mais vestindo azul dentro de campo significa dizer que o Chelsea exerceria uma pressão bem maior sobre o PSG em busca do primeiro gol. Certo? Errado! Para muitos, José Mourinho “joga com o regulamento debaixo do braço”. Para mim, tal frase só vem a esconder e maquiar tamanha deficiência que esse treinador tem em colocar o seu time para atacar o adversário, para buscar o gol. “Jogar com o regulamento debaixo do braço”, nesse caso, significa dizer que se o 0 x 0 está servindo para classificar o Chelsea, por que então se lançar ao ataque, se basta se defender com consistência? Talvez José Mourinho conheça essa lógica, mas ainda não tenha ouvido falar em uma máxima, também muito aplicada aos campos de futebol: “o medo de perder tira a vontade de vencer.”

Enquanto o Chelsea voltou para o segundo tempo demonstrando-se acomodado, preguiçoso, sem fazer muita questão de buscar a abertura do placar, o PSG voltou valente, corajoso, sem perder a sua consciência em sequer um instante. Os 90 minutos que o time francês tinha para fazer um gol pelo menos, se reduziram para 45, mas em momento algum isso parece ter trazido desespero, pânico ou afobação aos comandados de Laurent Blanc, mesmo com a ausência do sueco expulso ainda na primeira etapa. A fama, o Glamour e o status de craque circundam Zlatan Ibrahimovic, mas eu, sinceramente, sou mais fã do futebol do uruguaio Edison Cavani. E foi dos pés dele que veio uma chance incrível do placar ser aberto em Londres. O camisa 9 recebeu pela ponta esquerda, driblou Courtois e com um ângulo que não era dos mais favoráveis, carimbou a trave esquerda do Chelsea. Está certo que não havia passado nem metade do tempo da segunda etapa, mas provavelmente passou pela cabeça de Cavani, de Blanc, de Mourinho e de todos aqueles que assistiam à partida: “É bem provável que o PSG não tenha outra chance de gol tão clara nessa partida.”

Só que os comandados de Blanc eram valentes e estavas dotados de uma capacidade sobrenatural de entender aquilo que deveria ser feito dentro de campo. Como se o time atuasse na temperatura exata que o jogo estava pedindo dele. Quente o suficiente a ponto de marcar forte, mostrar-se atento na defesa e veloz no ataque quando possível. Frio  no sentido de saber exatamente que não podia/devia se lançar ao ataque e se expor defensivamente. O que Mourinho mais parecia querer era que o PSG se lançasse ao ataque abrindo buracos para o contra-ataque. Mas a tentadora armadilha montada não colou. E as limitações do Chelsea foram ficando evidentes. Jamais falo isso me referindo à qualidade técnica dos jogadores escalados. Esses não têm culpa. O principal culpado parecia ser o português que se encontrava em pé na área técnica.

Se Diego Costa tivesse feito um gol a cada confusão arrumada, certamente o Chelsea sairia de campo tendo goleado o adversário. A consciência do PSG contrastava com a falta de força mental do atacante do Chelsea, que parecia mais preocupado em brigar que jogar bola. Ainda na primeira etapa, Bjorn Kuipers teve a chance de expulsá-lo de campo após forte entrada em Thiago Silva, mas optou em fornecer-lhe somente o amarelo. E daí ao fim do jogo ainda teve outras chances de colocar para o chuveiro mais cedo o atacante brasileiro/espanhol. Mas não o fez.

E o gol que abriu o marcador em Londres teve participação importante justamente de Diego Costa. Um chute mal executado (leia-se uma bela de uma furada) do brasileiro/espanhol acabou servindo de assistência para Cahill chutar e estufar as redes de Sirigu. Stamford Bridge veio ao delírio. O relógio marcava 35 minutos. Se o 0 x 0 servia ao Chelsea, imagine o 1 x 0. Faltando dez minutos mais os acréscimos e com um homem a mais, era como se o gol fosse o golpe final e fatal atribuído ao PSG, certo? Mais uma vez errado. Se antes um gol do PSG daria ao time francês a classificação, agora um gol faria o jogo ir para prorrogação.

Inabalável emocionalmente, o PSG, mesmo com as circunstâncias momentâneas da partida, não se lançou todo ao ataque e manteve sua defesa bem protegida. Era como se estivesse escrito no céu de Paris que o gol viria em algum momento, de maneira natural, espontânea. E ele veio! Com requintes de ironia, crueldade, emoção e heroísmo. David Luiz, dispensado do Chelsea por Mourinho há quase dois anos, cabeceou com violência após escanteio cobrado da direta e os presentes em Stamford Bridge viram a bola explodir no travessão antes de vencer Courtois e ultrapassar a linha final. Nesse momento, caiu por terra a afirmação feita por ele antes do jogo, que não comemoraria um gol contra seu ex-clube. Em uma mistura de êxtase e amnésia, o zagueiro brasileiro saiu vibrando por ter anotado o gol que levava a partida para a prorrogação.


Do banco de reservas do Chelsea saiu Drogba. O homem que fez um dos gols mais importante da história do clube, decisivo para a conquista da Liga dos Campeões em 2012, adentrava o gramado para tentar salvar um Chelsea que talvez já estivesse classificado se não fosse a apatia e acomodação durante uma hora em que o time teve um a mais.

E o físico parece ter começado a pesar para o PSG na prorrogação. O Chelsea enfim parecia disposto a pressionar o time francês, balançar as redes e evitar uma disputa de penalidades. E logo aos cinco minutos veio o gol. Thiago Silva vacilou inexplicavelmente ao colocar a mão na bola em uma disputa pelo ar, dentro da área. Pênalti assinalado e convertido por Hazard.Qualquer que fosse o resultado final em Londres, a partida já seria histórica. Mas foi escrito no primeiro parágrafo que o duelo foi como uma novela escrita pelo mais competente dos dramaturgos ou como um filme dirigido pelo melhor cineasta de Hollywood, estão lembrados?

O ápice da emoção surgiu aos oito minutos da segunda etapa da prorrogação e veio a escancarar a beleza, a arte e os ensinamentos que se pode tirar desse atraente e fascinante esporte. Aqui ainda não foi dito que Thiago Silva jogava com uma lesão na face, que podia ser vista por conta de um grande inchaço na região. E foi superando o machucado no rosto, os 113 minutos já jogados e o peso momentâneo de ter feito o pênalti que estava dando a classificação ao Chelsea, que Thiago Silva foi no terceiro andar para completar de cabeça a cobrança de escanteio vinda da esquerda, encobrir Courtois, balançar as redes e eliminar José Mourinho e todo o pragmatismo e acomodação do time por ele dirigido da Liga dos Campeões. Cabe lembrar ainda que no lance anterior o mesmo Thiago Silva cabeceou e Courtois fez uma defesa daquelas de cinemas. Mas não houve goleiro capaz de impedir um desfecho que parecia já estar traçado antes mesmo do apito inicial


É como se o futebol precisasse da classificação do PSG. Mas tinha que ser assim: Dramática, emocionante, suada, brigada, beirando o inacreditável. E, acima de tudo, reflexiva!

Futebol é teoria, é prática, é ideologia, é suor, é sorte, é limite, é tática, é inteligência, é entendimento, é pensamento, é coerência, é coesão... é alma! E em todos esses quesitos o PSG foi superior ao seu oponente!

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