segunda-feira, maio 01, 2017

ZÉ RICARDO DESPONTA COMO UM DOS MELHORES TÉCNICOS DO BRASIL

Por Danilo Silveira

Fosse o futebol analisado pelo que o time produz e não pela quantidade de títulos e vitórias que a equipe possui, Zé Ricardo já teria status de gênio e esse Flamengo seria considerado um dos melhores da história. Talvez este que vos escreve tenha enlouquecido ou esteja passando por um surto! Não, não! Não é nada disso! Acompanho o Flamengo jogar há mais ou menos 15 anos e não me recordo de nenhum período onde o time tenha jogado um futebol tão bonito de se ver durante tanto tempo. Foram quatro meses com Luxemburgo, foram alguns jogos com Cristovão, foram mais alguns jogos com Jayme de Almeida, mas nada se compara ao Flamengo do Zé Ricardo. Belo, encantador, de encher os olhos.

Dizia eu em 2008 que Cuca era o melhor treinador do país. Digo eu em 2017 que Cuca é o melhor treinador do país. Em 2008 era loucura da minha cabeça, pois Cuca era um perdedor que na hora H "tremia". Em 2017 é algo discutível, por muitos aceito como verdade. Sabe o porquê disso tudo? Porque o brasileiro não vê futebol, na verdade o brasileiro gosta muito menos de futebol do que falam por aí. O brasileiro enxerga o resultado numérico da partida, muitas vezes abrindo mão de analisar os detalhes, as táticas e estratégias adotadas pelos treinadores e jogadores ao longo dos 90 minutos. Entre 2008 e 2017 Cuca venceu alguns estaduais, uma Libertadores e um campeonato brasileiro. Por isso hoje ele "mudou de patamar". Pra mim, o treinador muda de patamar pelo que o time apresenta, não pela quantidade de títulos que ele conquista. E no futebol, jogar bem e ganhar muitas vezes são inversamente proporcionais. Não é mesmo, José Mourinho? Não é mesmo, Arsene Wenger?

Até agora, os resultados numéricos do Flamengo são muito bons, mas ainda assim, são bem abaixo daquilo que o time produz dentro de campo. A vitória magra, por 1x0 sobre o Fluminense, de certa forma não reflete o que foi o jogo. O Flamengo jogou bola suficiente para aplicar uma goleada em seu rival. Assim como o Rubro-Negro da Gávea jogou melhor que seus adversários nas duas únicas derrotas no ano em jogos válidos (Universidad Católica e Atlético-PR).

Talvez a torcida rubro-negra ainda não tenha se dado conta de uma coisa: o esquema de jogo de Flamengo supera o talento individual. Isso significa que as boas atuações e o equilíbrio da equipe acontecem muito mais por conta do excepcional trabalho exercido por Zé Ricardo do que propriamente pelas peças que estão em campo. Não que o time seja ruim em talento individual, longe disso. Mas sem dúvida o jogador sobe muito de produção quando o treinador é bom. Pará, Rafael Vaz, Márcio Araújo são três exemplos de jogadores outrora tachados de jogadores ruins, que poderiam ir embora do Flamengo, que hoje são titulares e estão jogando bem. Destaque acentuado para Márcio Araújo, um dos melhores jogadores do time neste ano. 

Nesse panorama, Ederson, Diego e Conca estão sem condições de jogo (três meias que seriam titulares na maioria dos times do Brasil) e o Flamengo sente pouco a falta deles, porque mudam as peças, mas o esquema fica. O Flamengo joga bem com dois volantes, mas também joga bem com três volantes. O Flamengo rende com Trauco de lateral-esquerdo, mas o Flamengo rende com Trauco de ponta esquerda. Sai Rômulo, entra Mancuelo, o time continua jogando bem. É 80% mérito do Zé Ricardo. 

Na verdade, o Flamengo é detentor de uma estrutura tática fantástica, onde os jogadores circulam no campo em diferentes posições, sem comprometer a organização da equipe. Guerrero sai da área para o meio-campo, depois do meio-campo para a ponta esquerda. Rafael Vaz vira ponta-esquerda. Arão e Mancuello flutuam pelo meio-campo todo. Trauco sai da lateral para o meio-campo. Uma bagunça das mais bem organizadas.

Há treinadores tachados de ofensivos, outros tachados de defensivos. Muitas vezes, o time do treinador ofensivo é desequilibrado na defesa, sofrendo muitos gols, assim como o time do treinador defensivo tem dificuldade de criar chances de gol, muitas vezes jogando "por uma bola", O Flamengo do Zé Ricardo não possui nenhuma das deficiências citadas acima. O time cria chance de gol atrás de chance de gol, ao mesmo tempo que o time marca de maneira implacável, sendo uma difícil tarefa penetrar na defesa rubro-negra. Isso passa muito por dois aspectos que o time do Flamengo hoje faz com maestria. Transição defesa-ataque e transição ataque-defesa (muitos chamam de recomposição).

Se Zé Ricardo terá muitos títulos na carreira eu não sei. Se vai levar o Flamengo ao título estadual, ao título da Libertadores ou aos dois, também não sei. Só sei que fazia muito tempo que não via surgir um treinador tão qualificado em solo brasileiro. 
 

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