sábado, julho 07, 2018

JOGO 60: LUZ, CÂMERA, AÇÃO: A CROÁCIA ESTÁ NA SEMIFINAL DA COPA DO MUNDO:

Por Danilo Silveira



Senhoras e senhores, luz, câmera e ação! Vai começar o filme em Sóchi. Como todo bom filme, os personagens se apresentam ao público e aos poucos, vai ficando nítido quem exerce papel principal, quem é o coadjuvante.

Personagens russos e croatas em ação. Os russos logo mostraram que tinham como proposta, avançar seus homens, marcar no campo adversário, para impedir que os croatas trocassem passes muito à vontade no meio-campo, onde possuem muita qualidade. Principalmente nos pés de Luka Modric. Aliás, como joga bola esse cidadão. Personagem principal do filme, com atuação que deve ser para qualquer bonequinho aplaudir de pé. Não é daqueles personagens extravagantes, não faz jogadas "midiáticas", não é muito de dar arrancadas, mas no papel de conduzir o time, de ser o dono do meio-campo, faz como poucos.

Do outro lado, Cheryshev teve seu momento de protagonista aos 30 minutos de jogo. Tabelou com Dzyuba e soltou uma bomba de fora da área, no ângulo direito do goleiro Subasic, que ficou olhando, sem nada a fazer. Arrisco-me a dizer que nenhum goleiro desse planeta defenderia esse chute. Sob o céu de Sóchi, as arquibancadas do estádio Olímpico pulsavam com um dos muitos momentos emocionante do filme.

E oito minutos mais tarde, o filme cresceu ainda mais em emoção e suspense quando Kramaric tratou de engrandecer o roteiro ao, cercado por quatro marcadores, achar espaço para completar de cabeça para o fundo das redes, cruzamento de Manduzukic, da ponta esquerda.

Apitava o árbitro, era o momento do intervalo. Pausa para ir ao banheiro, comprar mais pipoca e encher o copo de refrigerante antes de o segundo tempo começar. Baterias recarregadas e o filme seguiu. Poderiam ser os 45 minutos finais, ou não! Ninguém ao certo sabia exatamente quanto tempo o filme duraria. A Croácia parecia reunir mais forças para tentar fazer com que esse filme acabasse em 90 minutos, com ela classificada para atuar em outro filme, mais adiante na Copa do Mundo.

Mas do outro lado, tinha a Rússia...valente, brigadora, cheia de vontade. Não queria sair de cena, queria seguir até o fim atuando. Afinal, o filme estava sendo gravado em seu próprio território.

O chute de Perisic parecia ser um indício de que o filme não demoraria tanto a terminar, mas a bola caprichosamente bateu na trave.

Uma regra básica desse filme é que durante os 90 minutos, cada diretor pode trocar apenas três atores de seus elencos, mantendo sempre 11 em ação. O diretor croata, Zlatko Dalic, trocou três de seus atores ao longo da segunda etapa do filme. E quando o tempo esgotava-se, veio uma cena forte, impactante, que poderia decidir os rumos do filme. O goleiro Subasic caiu para fazer uma defesa e sentiu a coxa. Fez cara de quem sentia muita dor. Para quem não sabe, o goleiro é um ator especial, que cumpre dentro do roteiro, uma função muito específica. A Croácia não podia mais trocar seus atores. Teria que ir um jogador de linha cumprir o papel de goleiro nos minutos finais de segunda etapa (em caso de prorrogação, o diretor pode trocar mais um ator). Mas, Subasic seguiu em campo, e ao certo, ninguém sabe (talvez só ele) se ele estava 100% fisicamente.

Encerrou-se os 90 minutos, e nenhum dos times conseguiu conquistar o Oscar dentro desse período no estádio Olímpico de Sóchi. Seria dado mais meia hora para, quem sabe, um elenco conseguir sair vitorioso em relação ao outro.

E Domagoj Vida foi o ator que protagonizou a cena mais impactante do jogo até ali. O zagueiro deu uma cabeçada na bola, mandando- para dentro das redes defendidas por Akinfeev. Vida dava ali, a sobrevivência para os crotas. Ele tirou a camisa, saiu festejando com seu companheiros. Ainda não era o Oscar, mas o gol foi comemorado como tal.

Fosse um filme qualquer desses "mamão com açucar", para você ver quase dormindo, nada mais aconteceria de muito impactante e o filme terminaria em menos de meia hora. Mas, estamos falando de um dos melhores filmes do ano.

Salamovich Cherchesov (quase um ídolo nacional russo, por ter feito um filme de seu país poder ser exibido nessa fase da competição, em detrimento ao filme espanhol, por exemplo) pedia à beira do campo o apoio vindo das arquibancadas. Um regente, um técnico ou um diretor? Nesse momento, Cherchesov era um pouco de cada coisa. Fato é que a resposta veio das arquibancadas, em forma de gritos de incentivo. E quando Dzagoev cobrou falta na área e Mário Fernandes cabeceou para as redes croatas, no minutos 114 do filme, ficou evidenciado que aquele filme entraria para a eternidade.

Rebobinando o filme, será possível verificar que próximo ao minuto 90, o goleiro Subasic machucou-se e, aparentemente, teria que sair do jogo, mas acabou ficando. Lembram que eu disse que o goleiro não é um ator qualquer, e cumpre uma função específica? Pois, bem. Tudo seria decidido nas penalidades máximas, situação onde o goleiro tende a ser o protagonista, às vezes como herói, às vezes como vilão, às vezes como nenhum dos dois.

E Subasic queria ser herói, e defendeu sua meta como tal em cobrança de Smolov. Só que do outro lado, Akinfeev também queria brincar de ser herói, e impediu que a cobrança de Kovacic ultrapassasse a linha final do gol.

Se ainda estamos aqui narrando o filme, é porque Mário Fernandes fez um gol na prorrogação, impedindo o término do filme. E, numa história digna de cinema, envolvendo suspense, reviravolta, choros e lágrimas,o lateral-direito brasileiro, naturalizado russo, desperdiçou sua cobrança. Era o início do fim. Pouco depois, Rakitic decretou a cena derradeira do filme, chutando a bola no canto direito de Akinfeev, que caiu para o lado oposto.

Sai de cena a Rússia. E deve fazer isso de pé, de cabeça erguida, ovacionada por seu povo, sua nação! Segue viva a Croácia, e ainda que no fundo trate-se de um time de futebol, e não de um filme, a metáfora é válida, pois assistir a Croácia jogar nessa Copa é tão interessante quanto assistir  um filme candidato ao Oscar. Falando nisso, o sonho de receber o Oscar (ou a taça, como queira chamar) está cada dia mais vivo no coração de cada cidadão croata.




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